Gabinete do Director

Revirei os olhos. Ele achava mesmo que eu ia ficar ali fora e ele dentro do seu gabinetezinho trancado? - Tenho que aprender isso porquê ham? - comecei a bater na porta e a falar alto de mais, para que todos os alunos, professores, funcionários e o raio ouvissem. - Lá porque não sabe satisfazer uma mulher, não quer dizer que esteja tudo perdido! Existem métodos para ver se isso funciona!

Ela que falasse, ela que gritasse, ela que fizesse o que quisesse. Não ia ser eu a aturar a sua birra. Liguei o rádio no máximo e deixei que a música jazz fosse a única coisa que eu ouvia.

Cerrei os punhos assim que comecei a ouvir a música vinda de lá de dentro. Pensei em abrir a porta, com a chave que tinha ficado comigo, mas ia descer mais baixo. Liguei ao meu pai e contei-lhe uma história completamente diferente do que se tinha passado. Era a única maneira de o ter cá. Acabara por dar a impressão ao meu pai, que o diretor não passava de um alcoólico e um drogado qualquer. Encolhi os ombros e encostei-me à porta, à espera que ele chegasse ao colégio e quisesse falar com o senhor diretor. Eu ia-me fazer de vítima, como sempre fazia e o meu pai como sempre, acreditaria em mim. Apesar de tudo, nem punha em causa se eu estava a mentir ou não. Assim que ele chegou, falou com a secretária. Seria só ter de esperar até ela falar com o seu rafeiro, diretor de meia tigela, filho da mãe..

Claro que o ambiente tinha de ser estragado. Pior, tinha de ser duplamente estragado com um encarregado de educação. Pior ainda, ser o encarregado de educação daquela selvagem. Desliguei a música e compûs-me. Depois abri a porta e deixei o Sr.Parker entrar, cumprimentando-o.

Claro que não me ia rir ali, mas não deixei de colocar um grande sorriso nos meus lábios. Entrei seguidamente ao meu pai e agarrei-me ao seu braço, para o caso do diretor começar com ideia, de me meter para fora dali. O meu pai ouvira a música aos berros no seu gabinete, já era mais uns pontos para mim.
- Vou direto ao assunto. - eu sentei-me, o meu pai ficou em pé. Preferia sempre assim, quando era para tratar de coisas sérios. - Não coloquei aqui a minha filha, para ser influencia e desencaminhada. Nas primeiras semanas o que é que acontece? Chega-me aos ouvidos inúmeras queixas contra si! - se eu fosse invisível, teria certamente a fazer caretas e a rir-me.

Certamente que recebera imensas queixas minhas. Mas ele era o culpado, por não ter educado bem a sua própria filha. 
- Então vou direto ao assunto também. A sua filha tem um grave problema de comportamento e está por um fio de ser expulsa deste colégio. Não há nada que eu posso fazer a respeito deste problema a não ser repreender a Paige. É por isso que recebe tantas queixas, a sua filha não quer seguir as regras. 

O meu pai olhou pra mim, com cara de quem tinha comido e não tinha gostado. Eu fiz um ar chocado. - Isso é mentira! - tentei parecer uma menina bem comportada, pelo que nem levantei a voz. Virei-me para o meu pai. - O senhor diretor deve ter alguma coisa contra mim, pai! Ele até diz que eu quero ter sexo com ele.. Eu sou virgem, não penso nessas coisas! - pois claro, eu devia ser isso tudo, devia.. No que dependesse de mim, ele não iria levar a melhor.

Vi-se de longe que o pai dela acreditava na sua história. Que homem idiota, pensei. Via-se de longe que aquela rapariga não era uma santa, como o Sr.Parker pensava.
- Paige, como sempre, está a tentar distorcer a realidade. - não lhe dei muita atenção e virei-me para o seu pai - Na verdade, Sr.Parker, o lugar dela não parece ser este. Se a Paige não for disciplinada nem educada, então terei mesmo de a expulsar para não arreliar ainda mais os colegas e funcionários deste colégio.

- A minha filha é bastante disciplinada e educada. O senhor é que parece que não está em si. - revirou os olhos. - Eu ouvi o barulho que vinha de dentro do seu gabinete. Isso não é típico de um diretor! - go pai, go, go, pai.. ai pá, como eu gostava daquele velho. - Tenho a certeza que se falar com alguns pais, meus conhecidos, eles teriam a mesma opinião..

Sim, sim. Não revirei os olhos porque eu, ao contrário daquela família, tinha educação e devia manter-me firme, como era próprio de um diretor.
- Estava sozinho no meu espaço. Tenho o direito de fazer aquilo que quero - Se bem que eu não lhe devia satisfações. Agora ele metia-se com ameaças. Pois bem, eu não tolerava ameaças nem ia lamber as botas àquele pai só porque a filha dele era uma tarada - Então fale. Já que está tão desagradado com o colégio, tire a sua filha daqui. Vejo que é isso que quer fazer.

Não podia acreditar que aquele diretor não ia ceder. Maldito fosse.. se o meu pai não estivesse ali, com toda a certeza que me iria atirar a ele e espancá-lo. - Faz aquilo que bem quer e em contrapartida os alunos ficam ignorados. - revirei os olhos. Eu ia deitar mais lenha para a fogueira. - Podia falar àquele seu amigo, o juiz.. já que o senhor diretor está sempre a insinuar que eu sou isto e aquilo, que quero ter sexo com ele, posso processá-lo não é papá?!

Mais bastava ignorar Paige. Já estava completamente farto daquela aluna e talvez até fosse bom tê-la fora do meu colégio de uma vez por todas.
Olhei para o Sr.Parker - Processe-me. Não tem provas contra mim nem terá porque o problema está na sua filha. Aliás, eu tenho provas sobre o comportamento da sua filha. - Tinha as gravações bem guardadas. Talve Paige quisesse repensar as suas acção. As gravações mostravam claramente que ela não era santa nenhuma.

O juiz era do meu pai, arranjaria provas suficientes para tal coisa. - Veja lá como fala da minha filha. - revirei os olhos. Coitado do meu pai, era mesmo um iludido, ou então, não queria mesmo ver. Às tantas acendi um cigarro. Estava farta daquela discussão. Não ia mesmo levar a nada.. bahh..

Encolhi os ombros. 
- Paige, não se fuma neste escritório.
Avisei, num tom de advertência. Não era lá porque o seu pai estava ali, que eu ia permitir tal coisa.

O meu pai olhou-me com um ar terrivelmente assustador. - Paige Parker, tira isso da boca! Já! - epa.. assim já não gostava do meu pai. Maldito velhote. - Calem-se os dois. Deixem-me pensar..

Fiz um enorme esforço para não revirar os olhos.
- Como vê, Mr.Parker, é difícil lidar com a sua filha. Talvez o melhor para ela seja mesmo um colégio interno.

O meu pai olhou-me chocado e tirou-me o cigarro da boca. - Hey! - este acabou por se apagar e suspirei. Se o olhar matasse, com toda a certeza que aquele diretor já estava morto e era por mim! - Num colégio interno, não!

- É claramente um assunto da sua família mas talvez só num colégio assim a Paige pode ser disciplinada - continuei, talvez conseguisse convencê-lo.

Era impressionante. Aquele diretor de meia tigela, estava a começar a ter a atenção do meu pai! Se continuasse para ali a falar, com toda a certeza que o iria virar contra mim. - Mas.. mas.. - ia intervir se não tivesse sido impedida pelo meu pai. Acabei por desistir e deixei-os para ali falar. Fui-me sentar no sofá com a maior cara de amuo do mundo.

Falei com o Mr.Parker sobre algumas hipóteses possíveis, sobre colégios conceituados onde Paige iria certamente integrar-se. O pai dela parecia agradado pelas sugestões. Acabámos a conversa com um aperto de mãos.

Enquanto falavam, fui mexendo em algumas coisas que por ali estavam. Coisas de gente chique, que por mim seria vendida ou doada a uma coisa qualquer. Mal mirei aqueles dois, já ambos se davam lindamente, até apertaram as mãos! Revirei os olhos. Pois claro, estava mesmo a ver que estava perdida. Pois aquilo não iria ficar assim. Podia falhar mil e uma vezes, mas eu ia comer aquele diretor!

- Se precisar de saber mais alguma coisa, não hesite em ligar-me - não que eu quisesse, mas havia sempre que ser educado e atencioso. Mr.Parker já estava a sair e fez sinal a Paige para o acompanhar.

Mal o meu pai fez-me sinal, tive mesmo para lhe fazer um ato infantil, mas apenas revirei os olhos e segui atrás dele. Assim que ele saiu, virei-me para o senhor diretor e olhei-o seriamente. - Isto não vai ficar assim.. eu vou-te comer, mais cedo ou mais tarde. - fechei a porta e fui-me embora.

encerrado.

Podia ser que o problema Paige Parker acabasse por ali, ou perto disse. COm alguma sorte, ela sairia do colégio pelo seu próprio pé. Voltei a fechar a porta do meu escritório e recostei-me na minha cadeira. Voltei a ligar o rádio mas desta vez, em vez de música jazz, foi rock alternativo. Só queria ficar sossegado o resto do dia.