Gabinete do Director

Não queria acreditar que para além de estar enfiada naquele colégio de treta, ainda era chamada ao gabinete do director. Pois claro, como se tivesse feito alguma coisa, para ser chamada ali. Revirei os olhos e suspirei pela milésima vez. Não era o homem que me queria falar, então, porque demorava tanto tempo a aparecer?! Com aquela espera toda, acabei por me ir sentar na sua cadeira.. confortável, hem.. e comecei a mexer em alguns objectos de decoração que ali tinha.

A pior parte do meu trabalho era mesmo ter de estar sempre a
chamar a atenção àqueles jovens insubordinados. Entrei no meu gabinete para ver
uma jovem onde ela não devia. Por amor
de deus, ninguém ensina as maneiras a estes jovens? – Saía já daí – ordenei num
tom rígido. Odiava que se metessem no meu espaço, ainda para mais um aluno
qualquer.

Acabei por me assustar e deixei cair o objecto que naquele momento, tinha na mão. - Porra, que susto, homem! - revirei os olhos. E pronto, por culpa dele, tinha partido aquilo. Bah.. - Errg.. isto é que é um gabinete, só luxo atrás de luxo! Boa vida! - revirei os olhos e continuei sentada na cadeira. Aquele devia ser o director, só podia. Pelo seu jeito de falar e pela sua roupa.. - Então, o senhor é que é o director deprimido.. - ri-me. Aquilo era mais uma afirmação do que uma pergunta.

E agora ela partira o meu globo de neve irlandês. Uma linha rígida formou-se nos meus lábios. Aproximei-me dela e peguei-a pela mão, ignorando as suas palavras – Não era um pedido, é um ordem. Sai da minha cadeira.

Abanei a minha mão, furiosa pela sua estupidez e pelo seu acto. Porra, ele podia ser menos bruto! - Largue-me. - puxei a minha mão e agarrei-me à cadeira, antes que caísse. Empurrei-o e olhei-o. - Mas está parvo ou faz-se?! A mulherzinha não lhe deu sexo hoje, foi?! - voltei a revirar os olhos e desta vez, fui-me sentar no meu ''devido'' lugar.

Cerrei os dentes. Aquela aluna já me deixara irritado. Maldita a hora em que toda a gente já sabia do meu divórcio. Limitei-me a não responder-lhe, obviamente. A minha vida pessoal não era para ser discutida com os alunos - Vou directo ao assunto - olhei para o post-it onde tinha o nome dela - Paige Parker, as regras são para ser cumridas neste colégio.

Coloquei os pés em cima da sua secretária e acendi um cigarro. Regras?! Ora pois, regras.. se eu não cumpria as regras que o meu pai me metia, porque haveria de aceitar e cumprir aquilo, logo num colégio onde eu estava contrariada?! - Ham? São?! Hum.. que fixe.. - sorri abertamente. - Deixe de ser chato e vá logo ao assunto principal!

Inclinei-me para a frente - Apaga o cigarro imediatamente. E tira os pés da minha secretária, isto não é tua casa - Ela claramente não tinha educação. Que fizera eu para só me calharem alunos assim? - Sem rodeios, tu vais ter um parceiro e vais cumprir as regras. Se não a alternativa é acabars expulsa deste coléio e ires parar ao interno onde o teu pai te quer pôr - aquela era uma ameaça a sério.

Semi cerrei os olhos. O que eu mais queria naquele mundo, era sair daquele colégio. Mas depois foi só ouvir as suas palavras, que fiquei logo tensa. Inclinei-me também para a frente. - Isso é uma ameaça?! - inclinei um pouco a minha cabeça para a direita. - Eu já tenho idade para fazer o que quiser! Expulse-me logo! - e só para o provocar, apaguei o cigarro em cima da sua secretária.

- Entendo-o como quiseres. Ou te pôes na linha aqui, neste colégio, ou segues as intenções do teu pai - olhei-a penetrantemente e bati a mão, com força, em cima da mesa - Estou tentado a fazê-lo, Parker. A menina é insuburdinada e claramente mal educada. Talvez o melhor seja mesmo o seu pai interná-la num colégio com terapia de choque.

- Aqui quem precisa de terapia de choque és tu, se é que me entendes! - nem sequer me importei se ele ligava ao facto de o tratar por tu. Cruzei os braços ao peito e encostei-me à cadeira. - Além do mais, eu não tenho medo de ti, nem de ninguém. - arrg.. se ele continuasse a dizer coisas como aquelas, eu jurava que não ia responder por mim.

- Trata-me por Sr.Director. Não sou nenhum dos teus amigos para me tratares por tu - estava visto, tinha de ser eu aensinar algumas maneiras àquela rapariga - Mas devias, Paige. Porque eu não estou aqui para brincadeiras. É o meu colégio, as minhas regras. Se não estás diposta a segui-las, estás fora.

Comecei-me a rir e olhei-o de alto a baixo. - Não achas que és novo de mais para essas coisas de gente certinha?! - E agora que o mirava bem, não podia crer, como um homem daqueles, não tinha sido bem aproveitado pela mulher. Está visto que era uma tapadinha, pensei. - Uuuh.. só sabes ameaçar.. - levantei-me daquela cadeira e fui-me sentar no seu colo. - Devias ser menos chato. Isso faz-te mal à saúde e é.. hum.. uma merda para nós, alunos.

- Ninguém é novo de mais para impor respeito, coisa que, obviamente, a menina não tem - respondi num tom seco e reprovador. Cerrei os dentes quando ela se sentou no meu colo e levantei-me, afastando-a de mim - Não opines sobre as minhas decisões.

- ... ''coisa que obviamente a menina não tem..'' - imitei o seu tom e revirei os olhos. - Eu opino no que eu quiser, entendes?! A boca é minha e que eu saiba, ainda existe liberdade de expressão nesta porcaria! - encolhi o meu corpo e olhei para o globo que continuava caído no chão. - Era muito importante para ti? - perguntei.

- Então faça-o com respeiteo e educação. Exigi-o!
Repliquei num tom frio e de ordem, Olhei para o globo. Tinha sido um presente da minha mulher, numa das suas viagens que mais tarde eu descobrira serem com o amante - Para a próxima não toque onde não deve.

Não lhe iria pedir desculpa pelo globo, nem pela minha suposta ''falta de educação''. Aproximei-me dele, até ficar frente a frente com a sua pessoa. Ele era muito mais alto do que eu, pelo que olhá-lo assim de baixo, não dava lá muito jeito. - Eu toco onde eu quiser.. - pousei as minhas mãos no seu peito e sorri abertamente. - Onde eu quiser, entendes?! Não és meu pai, nem mandas em mim.. simples.. - mordi o lábio. - Pelo que, o facto de ter um marido para mim, está fora de questão!

Ela era tão ousada assim? Ninguém me tocava. Não a menos que eu deixasse e isso não era o caso. Peguei nas suas mãos e apertei-as, afastando-as do meu corpo - Sou o teu director e mando naquilo que eu quiser enquanto estiveres sob as minhas ordens - vociferei - vais ter um. E só te vai fazer bem.

Ele não era meu pai para mandar na minha pessoa. Assim que me apertou as mãos, dei-lhe um valente pontapé no meio das suas pernas. - Não vou ter não.. Lá por teres tido um casamento de xaxa, não quer dizer que eu o vá ter!

Sorry, tou no tlm .-.

Encolhi-me de dor. Desta vez ela passara dos limites e pusera-me furioso. Peguei novamente nas suas mãos e depois pu-la fora do meu escritório - Paige Parker, mais uma destas e estás expulsa deste colégio. É um aviso que deves levar a sério - disse num tom frio e desprezível e fechei-lhe a porta na cara. Depois tranquei a porta.Não queria que mais ninguém me incomodasse no resto do dia.

Revirei os olhos. Se fosse por mim, aquilo não iria ficar assim. Ele fora tão bruto, tão arrrg... Maldito! Cerrei os dentes e os meus punhos e caminhei para fora dali. Aquele director de caca iria ver..

encerrado.

Cliquei no botão do telefone - Shania, não recebo mais ninguém esta tarde. Desmarque todas as reuniões - disse via intercomunicador para a minha secretária pessoal. Após ter desligada, apanhei os restos do globo de neve que jazia agora partido no chão. Malditos jovens, malditos alunos. Qualquer dia iam estar todos na linha, se dependesse de mim.

encerrado.

Tal como planeado, acabei por entrar no gabinete do director. Quer dizer, pelo menos, estava a caminho de tal. Assim que apanhei a secretária distraída, escapuli-me e bati à porta. - Posso entrar, senhor director?! - perguntei. Mas, nem precisei da sua autorização, já que já tinha entrado. Tranquei a porta. Agora é que ele ia ver, o que era bom para a tosse.

Para além de uma chávena de café dupla, o meu dia começava da pior forma com papelada que descuidara no dia anterior. Ouvi bater a porta mas antes que pudesse responder com um não, já Paige Parker tinha entrado. Tenho de seu eu mesmo a trancar a porta, daqui a em diante, pois Shania obviamente não estava a fazer bem o seu trabalho como secretária.
- O que é que a menina quer agora? - perguntei sem paciência.