Quarto da Caitlin & Jake

Tinha finalmente conseguido chegar ao colégio. Já tinha desligado o telemóvel, comprando um descartável pelo caminho, para Jules e Luke poderem falar comigo. Paguei ao taxista assim que o carro parou e saí do mesmo, agarrando as minhas malas com as duas mãos, uma mala de cada lado. Levantei o olhar para o colégio, inspirando o ar puro antes de entrar e depois sim, lá fui. Fui até à secretaria, tratar de tudo o que era preciso e depois segui até à ala dos quartos. Estava ansiosa para ver com quem tinha ficado, só esperava não ter mais problemas do que aqueles que já tinha. Olhei para o mapa que a senhora me tinha dado e olhei em frente, vendo que estava no sítio certo. Vasculhei pelos meus papéis, para ver qual era o número do meu quarto e quando vi a porta, já lá estava um rapaz, prestes a fechá-la.
- Hey! - chamei.- espera, não feches! - dei uma corrida para o conseguir alcançar.

Não queria estar ali e ela sabia disso, mas mesmo assim ali estava eu. Olhei para o número que ela me tinha escrito na mão, para não me esquecer de qual era o meu quarto e abri a porta com a chave que me tinham dado deixando desajeitadamente a mala entrar primeiro. Estava também eu a entrar quando ouvi um grito. Olhei em volta dando de caras com uma rapariga mas rapidamente desviei o olhar afastando-me.

A princípio, não tinha bem a certeza se o rapaz me tinha ouvido, mas ele olhara-me, qual outra razão seria se não ter realmente ouvido o meu grito? Apressei-me a correr para a porta, segurando-a para que não fechasse, visto que ele não a manteve aberta para mim, e entrei no quarto depois dele, puxando as minhas malas comigo.
- Não me ouviste? - perguntei, apesar de ter a certeza de que ele o tinha feito. Acabei por deixar as malas a um canto, não dando muita importância a isso e aproximei-me dele.- sou a Caitlin. - apresentei-me, esticando uma mão na sua direcção.

Olhei o quarto absorvendo todas as cores e abanei a cabeça quando vi que só havia uma cama. Não ia dormir com ela, com a rapariga que vinha a correr para o quarto. Fechei os olhos ao ouvi a porta bater, sinal que se tinha fechado e que ela tinha entrado. Dei um passo para trás quando uma mão me apareceu à frente. Be nice, be nice, be nice. A voz da minha mãe estava sempre na minha cabeça, mas eu não gostava de ordens, nem de pessoas. Andei mais alguns passos para trás até dar meia volta e abrir uma das portas, precisava de sair dali, mas a única saída para o sítio onde eu estava a ir era saltar da varanda.

Ok, estava mais do que visto, eu não tinha tido sorte nenhuma. Nem apertar uma mão ele apertava. Fiz uma careta, deixando a minha mão cair ao lado do meu corpo e fiquei a olhá-lo.
- Olá para ti também. - disse baixo, entredentes e abanei a cabeça, deixando escapar um suspiro. Como pelos vistos confraternizar não ia de certeza, comecei a arrumar as minhas coisas. Estava provado, eu era tudo, menos sortuda.

Isto não estava certo, preferia estar num hospital psiquiatrico qualquer onde me davam 4 comprimidos de hora em hora do que estar ali. Porque é que ela tinha destas ideias? Virei-me de costas para a varanda, eu e as alturas não eramos compatíveis e olhei para dentro do quarto aproximando devagar para entrar. Os meus olhos pararam na minha mala, por isso fui busca-la e depois disso, enfiei-me na casa de banho. Ali pelo menos estava sozinho.

Realmente, não sei o que é que me passara pela cabeça para ir para ali. Tudo bem, queria afastar-me de Steve, mas por outro lado, tinha deixado Luke ''sozinho'' quando nem sequer conseguia trocar duas palavras que fossem com o meu suposto marido. Abanei a cabeça, enfiando as minhas camisolas dobradas numa gaveta e quando me virei, já só o vi agarrar na sua mala e enfiar-se na casa de banho. Abri os olhos, ligeiramente surpreendida e acabei por me aproximar da porta, encostando o ouvido à mesma.
- Tu estás bem? - perguntei juntamente com um suspiro, só me faltava mais esta.

Fechei o tampo da sanita e sentei-me colocando a mala à minha frente e olhei para a porta. Porque é que ela não me deixava em paz?
-Isto não está certo - fiz a mala com rodas ir para a frente e para trás - eu quero ir para casa - disse para mim.

Mesmo com o ouvido encostado à porta, pouco conseguia ouvir, ou melhor, eu ouvia, só não conseguia distinguir muito bem os sons.
- Precisas de alguma coisa? - perguntei. Eu cada vez percebia menos, quem é que levava a mala para a casa de banho, ou melhor, o que é que ele estava lá a fazer com ela? - estás a ouvir-me?

Se sentires medo da mudança, só tens que te lembrar do que leste. Sim, a minha psiquiatra também estava na minha cabeça. Respirei fundo olhando pela janela e vi que estava a anoitecer. Amanhã devia ir às aulas, mas não sabia que ia. Levantei-me minutos depois, quando já não havia luz na cada de banho e estava às escuras e abri a porta vagarosamente.

Nada. Ele simplesmente não me dizia nada. Deslizei uma mão pela minha cara, soltando um suspiro frustrado e pousei uma mão sobre a porta, ponderando se voltava a insistir, mas acabei por decidir não o fazer. Abanei a cabeça, virando costas e fui sentar-me na cama, ficando a olhar para a porta. Ele não me podia conhecer, não percebia porque razão me estava a ignorar tanto. Levantei a cabeça assim que ouvi o barulho da porta a abrir-se e acomodei-me em cima da cama.
- Já estava a pensar se havia de chamar a ambulância ou não.

Puxei a mala para que viesse atrás de mim e fechei a porta. Sentei-me no chão abrindo a mala e fiquei a olha-la ao mesmo tempo que a ouvia.
-Não podes sair do quarto e procurar outro sítio para dormir? - perguntei agarrando na pouca roupa que tinha para a colocar direita e perfeita num dos armários vazios.

Eu nem sei para que é que ainda falava para ele. Abanei a cabeça, soltando um suspiro e levantei-me para ir buscar o meu pijama, já era tarde e eu só queria enfiar-me na cama. Foi quando estava a dirigir-me para a casa de banho que ouvi a sua pergunta. Levantei ambas sobrancelhas, olhando para ele e controlei-me para não me passar.
- Eu não percebo que mal é que te fiz. - abanei a cabeça.- e caso não tenhas reparado, é suposo partilharmos o quarto, não há mais sítios para dormir. - revirei os olhos.- mas posso dormir no chão, se te incomoda tanto. - eu não sabia se o ia aguentar durante um ano e eu costumava ser paciente, pois, cotumava.

Fechei a pela depois de arrumar tudo por ordem e levantei-me observando a roupa que ela levava na mão. Ia deitar-se, provavelmente também devia estar na hora em que eu devia deitar-me, mas onde?
-Não grites. Não é correto. - virei costas indo para ir vestir o meu pijama. Ia dormir no chão tal como tinha dito na minha entrevista.

Acabei por me sentar na pontinha da cama enquanto o olhava, já nem sabia se ele ia voltar à casa de banho ou não. Levantei uma sobrancelha, acabando por fazer o mesmo à outra quando ele falou e vi-o ir para a casa de banho, tal como eu previa.
- Mas.. - já não fui a tempo.- oh, por favor. - bati com uma mão na testa e deixei-me cair para trás enquanto esperava.

Vesti o meu pijama olhando para a casa de banho. Estava perfeita e arrumada, eu até gostava daquilo. Afastei-me para voltar a entrar no quarto e agarrei na minha mala para a ir arrumar e olhei para a dela.
-Podes arrumar a tua mala? - perguntei ao mesmo tempo que olhava a mesma.

Fiquei simplesmente a olhar para o tecto à espera que ele voltasse e assim que isso aconteceu, apenas levantei a cabeça para o olhar, vendo-o já com o pijama. Olhei para a minha mala quando ele fez o mesmo e acabei por levantar uma sobrancelha.
- O que é que tem a minha mala? - perguntei com uma cara feia.- ela está arrumada.

Be nice, be nice, be nice. Não dês pontapés, não estragues nada, fala como te disseram. Virei-me calmamente olhando para a cama a depois para a mala.
-Ela não está arrumada - disse calmamente - vou arrumar - avisei colocando a mala ao lado da minha.

À medida que o tempo passava mais confusa eu ficava, ele era mesmo muito estranho. O que é que a minha mala tinha de mal? Estava encostada a um canto, qual era o problema. Revirei os olhos quando disse que a ia arrumar e levantei-me, pegando no meu pijama.
- Faz o que quiseres. - disse apenas, entrando na casa de banho. Estava a começar a sentir-me desesperadamente impaciente.

Olhei em volta para o quarto vendo-me sozinho no mesmo. Finalmente. Fui até ao roupeiro buscar uma dois lençois e um cobertor para fazer a minha cama e coloquei o primeiro lençol no chão sentando-me depois no meio do mesmo e ajeitando o segundo lençol para cima de mim e o cobertor em cima do lençol para me aquecer. Ajeitei a minha cabeceira, que tinha trazido de casa e deitei-me tentando ficar confortável.

Aproveitei que tinha a casa de banho por minha conta e tomei um duche rápido para me refrescar, tinha sido um dia demasiado longo. Sequei o corpo, vestindo o meu pijama e assim que saí, deparei-me com o rapaz, do qual ainda nem o nome sabia, deitado no chão.
- Podes explicar-me o que é que estás aí a fazer quando tens uma cama mesmo ao lado de ti? - só esperava que não me ignorasse desta vez.

Fechei os olhos e fiquei a ouvir tudo o que conseguia. Ela estava a tomar banho. Ela estava mesmo a tomar banho. Abri os olhos quando ouvi a porta a abrir pouco tempo depois e mordi o lábio. Gostava que ela parasse de me perguntar coisa, assim poderia dormir.
-Não posso explicar.

Enquanto esperava que me respondesse, aproveitei para ir arrumar a minha tolha no seu lugar bem como a roupa que tinha. Voltei para o quarto, puxando as mantas da cama para trás e foi então que o ouvi falar, bem, pelo menos não me tinha ignorado, se bem que aquela resposta era tudo menos o que eu estava à espera.
- Não podes explicar? - repeti com um revirar de olhos.- podes fazer alguma coisa? - perguntei não esperando realmente uma resposta, e acabei por me deitar. Se ele queria tanto dormir no chão, que dormisse.

Suspirei quando ao fechar os olhos ela voltou a falar. Coloquei um braço debaixo da minha cabeça para dazer de almofada.
-Não