Graham Street

Abanei a cabeça. — Não consigo. Eu quero parar de pensar, quero sossegar, mas não consigo amor. — Suspirei e aninhei-me, estremecendo ao ouvir a campainha. Deixei que fosse Mikko a tratar disso e assim que ele abriu a porta, reconheci a voz de Grace. Permaneci na cama quase como uma estátua, e quando ouvi passos sentei-me na cama, com calma. Forcei um sorriso ao ver Grace que, mal me viu, quase ficou em choque. Agradeci quando me passou a chávena de chá para as mãos e suspirei. Depois de bebericar um pouco, contei a situação. — Não sei o que pensar, nem o que fazer. Não sei onde estão, se é verdade ou não... Não sei quem me envia as fotos, não sei o que querem de mim...

Agradeci pela presenca da minha mae. Eu nao sabia bem como lidar com a situação, como lidar com Felice. Ao menos a minha mãe tinha jeito para essas coisas. Ficámos os dois perto dela - Pode ser só alguem a mentir para te afetar, Felice. Isto pode ate nao passar de uma brincadwira de mau gosto

— Como é que isto pode ser visto como uma brincadeira de mau gosto sequer?! Não é como se os meus pais estivessem ali na casa deles e eu soubesse! Eu não sei deles! Os meus pais desapareceram e ninguém sabe deles! No mínimo isto foi rapto, se não foi mesmo um homicídio! E depois, quem me iria fazer uma coisa destas?! E porquê??? Ninguém pediu dinheiro ou o que quer que seja! — Disparatei para tudo e todos, calando-me e encolhendo-me apenas quando eu já não aguentava mais. Quando já me senti nos limites. — Mikko... — Sussurrei o nome dele por estar já em lágrimas e a voz me estar a falhar. Eu preciso do meu amor, do meu pilar... Preciso que ele me ajude, não tenho forças para isto, eu não aguento.

Nem sei bem ao certo como fui capaz de adormecer. Talvez por estar tão cansada de chorar, por me sentir tão exausta de tanto ter tremido. Só sei que, quando acordei, já devia ser de noite, uma vez que as janelas e persianas estavam fechadas, e apenas uma luz estava acesa. Vi Mikko distraído com o telemóvel, sentado ali à minha beira. Assim que me sentei na cama fui obrigada a levantar-me e quase fui a correr para a casa de banho. Vomitei o que tinha e não tinha no estômago, e quando terminei, pus a água abaixo. Já não estava a ser capaz de me levantar. — Amor..? Ajuda-me, não me consigo levantar.. — Acabei por pedir, aguardando pelo seu auxílio.. Não tenho forças para nada, nem pôr-me de pé e aguentar-me assim eu consigo.

Abanei de imediato a cabeça assim que ouvi a palavra médico. — Não amor, não é preciso. Só preciso de descansar um pouco, comer algo... Eu fico bem. — Esbocei um pequeno e forçado sorriso, respirando fundo assim que eu me ajeitei e fiquei meio sentada, meio deitada na cama. — O Milo? E a tua mãe? É de noite ou é quase de dia? — Questionei, completamente à nora. Assustei-me quando ouvi a campainha e olhei-o. — Podes ir lá ver quem é, por favor?

Assenti ao ouvir as informações. Apetecia-me abraçar o meu menino, mas até era melhor que ele não estivesse agora aqui. Iria ficar extremamente preocupado se visse a mãe neste estado. Acariciei a minha grande barriga e sorri a Mikko, encorajando-o para que fosse. Naquele instante olhava-me como se não me quisesse largar nem por um segundo... Mas alguém tinha de ir abrir a porta.
Estava entretida a tentar entrar num estado calmo, quase zen, quando os volumes das vozes aumentam e as reconheço. Uma era de Mikko, a outra de Mikael. Enquanto Mikko parecia não querer deixá-lo entrar sequer, Mikael insistia que só queria ajudar, que tinha contactos e que faria o seu melhor para nos prestar auxílio. Suspiro e permaneço calada enquanto os oiço ao longe, esperando por alguma coisa. A porta fecha-se, mas já não oiço ninguém e não sei se Mikko vem sozinho ou acompanhado.

Estava prestes para me levantar quando Mikko regressou ao quarto. Já não ouvia nada nem ninguém há uns bons minutos, e isso deixou-me preocupada. Aliviada por o ver à minha frente e sem nenhuma ferida ou algo do género à vista, estendi-lhe a mão e assim que alcancei a mão dele, segurei-a. — Era o Mikael não era? O que é que ele quer agora? Porque é que ele veio cá? O que é que se passa? — Questionei ansiosa e algo nervosa, olhando o meu Mikko atentamente.

Revirei os olhos. — Mesmo que a empresa do meu pai passe para mim, não vão conseguir tirar-ma. A não ser que me matem. — Falei bem a sério, suspirando. — Raios parta esta gente, só me subestimam. Não sabem com quem se estão a meter. — Resmunguei, dando assim pequenos sinais da Scorpius que sou. Estar deitada numa cama que nem uma acamada não parece meu, mas não tenho mesmo forças.
— Obrigada amor, obrigada... — Agradeci, com um pequeno sorriso, e peguei na sua mão. — Fala com ele aqui. Cá em casa, quero dizer. Fico mais descansada que assim seja. Não estou a desconfiar de ti ou das tuas capacidades, ok Mikko? É só que... É o Mikael. — Respirei fundo. Não era preciso dizer mais nada. — Eu não vou interferir, prometo. Fico no quarto e vocês conversam no escritório.

— Achas que eu gosto, amor? — Suspirei. — É por uma questão de segurança. Não confiamos nele... E ele podia sugerir encontrarem-se sabe-se lá onde, e fazer-te sabe-se lá o quê. E aqui não tem hipótese nenhuma... E depois, se eu ouvisse um barulho estranho que fosse, ia à cozinha pegar numa faca e espetava-lhe no pescoço. Tudo para te salvar! — Falei num tom divertido, beijando-lhe a mão.
— Espera, amor... Antes de te deitares, preciso que me faças duas coisinhas. Podes trazer-me algo para eu comer? Só para não ficar de estômago vazio durante muito tempo

Ainda bem que ela achava piada a algo, por mais mórbido que fosse - Ele não vai fazer nada, amor. Eu não o deixaria. Prometo. - Mikael não teria de ser mais uma preocupação.
- Claro que sim, amor. Apetece-te algo em especial? - Perguntei - E o que é a outra coisa?

Sorri com as suas palavras. Ele sabe sempre deixar-me tão calma, faz-me sentir tão segura. Abanei a cabeça quanto à comida. — Não amor, qualquer coisa serve. — Informei, mordiscando o lábio de seguida. — A segunda coisa é que tu venhas para aqui comigo e me faças aquelas massagens na barriga que tu fazes tão bem...

Aquele sorriso que ilumina até os dias mais escuros das nossas vidas...
Esperei por ele, estando já preparada para comer o que me trazia. Agradeci-lhe e fui comendo e bebendo, com calma, antes que ainda me sentisse indisposta de novo. Assim que terminei, pedi-lhe que pousasse o tabuleiro algures e que se sentasse na cama. Em seguida sentei-me eu, entre as suas pernas e de costas para ele. Melhor encosto que o corpo do meu amor não há. Peguei nas suas mãos e pousei-as na minha barriga, inclinando e pousando a cabeça no seu ombro. — Estou a magoar-te?

Voltei a sorrir assim que o ouvi dizer que não o magoava naquela posição, e deixei o meu corpo relaxar. Estas massagens, apesar de serem algo tão simples, deixam-me nas nuvens. Depois de dias negros e stressantes como este, nada melhor do que estar com o meu Mikko e receber uns mimos destes.
Respirei fundo quando a questão passou a ser outra, e abri novamente os olhos. — Nem sei bem, para te ser sincera, amor. Não sei o que pense, não sei o que está a acontecer. Sinto-me de rastos hoje. Se bem que estive pior há bocado, já me sinto melhor. mas mesmo assim... Estou cansada. Não entendo. — Suspirei. — Porquê? Porque não a outra pessoa com posses semelhantes ou superiores? Porquê afetar-me a mim, que quase ninguém me conhece? E raptarem os meus pais? Matarem-nos, ou fingirem que o fizeram? Ainda por cima agora, que estou grávida de gémeos, e que estou numa altura em que qualquer emoção forte pode provocar o pior? — Respirei fundo e virei o rosto, olhando-o. — A quem é que eu fiz mal? O que fiz para me fazerem isto, amor?

Se calhar não lhe devia ter perguntado nada, pensei imediatamente depois de ter feito a pergunta. Não queria faze-la revolver o assunto novamente mas ao mesmo tempo precisava de saber como ela se sentia para a ajudar.
- Tu não fizeste absolutamente nada - Era tudo uma grande injustiça -Felly, não há neste mundo ninguém melhor do que tu. Alguém não consegue lidar com isso nem com a nossa felicidade. Alguém nojento. Perdoa-me - Pedi desiludido -[/b] Perdoa-me por não ter conseguido evitar isto. [/b]

Mal ouvi o que ele disse, virei-me para ele da forma mais rápida e confortável e segurei-lhe o rosto. — Oh amor... Por favor, não digas isso! Nada disto é culpa tua, não havia como prever uma coisa destas. Eu... Eu tenho tanto medo, amor. — Acabei por dizer, de lábio trémulo e olhos cheios de lágrimas. — Não entendo o porquê, não sei o que está a acontecer... Tenho tanto medo de te perder! — Confessei, já a chorae desalmadamente — Por favor, tem cuidado... Não quero perder-te, eu amo-te tanto... Não ia conseguir sem ti... Mikko, eu amo-te... Não te quero perder.

A culpa era minha. Culpa por não me ter apercebido mais cedo e por não ter dedicado toda a minha atenção a esta merda toda logo no início. Agora quem pagava mais era a pessoa que mais amava no mundo. E caraças , já a metera a chorar novamente. Boa Mikko.- Eu amo-te - Foi tudo o que disse naquele momento entre as suas lágrimas. Abracei-a. - Não quero que estejas preocupada comigo. Não precisas de estar. Agora eu estou de coração nas mãos por ti, por eles - Murmurei tocando na sua barriga enquanto o fazia - Não vos posso deixar magoarem-se. Preciso de vis proteger e até agora falhei .

— Amor! — Resmunguei ainda a chorar, dando-lhe um leve soco no peito. — Pára de dizer disparates! Nós estamos bem! Mas se o alvo sou eu e têm os meus pais... Promete-me que tens cuidado sempre que saíres de casa. Promete-me,  Mikko! — Implorei, abraçando-o com força. — Não sou nada sem ti. Por favor... Não te posso perder. Não me deixes, não os deixes levarem-te para longe de mim...