Cozinha

Assim que ele se levantou da mesa eu lavei a loiça suja e assim que veio ter novamente comigo eu fiquei a ouvi-lo atentamente, Não pude deixar de sorrir - Está bem amor... Ela não se importa, muito pelo contrário - Ri baixinho e puxei-o mais para mim, ajeitando-lhe a gravata e o casaco. Pus-me em bicos dos pés e beijei-o de seguida - Espero que tenhas um bom dia de trabalho amor - Afirmei toda sorridente.

Ainda bem que tínhamos a minha mãe que estava sempre com disponibilidade para tomar conta do nosso filho. - Obrigada. até logo - Sorri e saí de casa.

Sorri-lhe e assim que ele saiu fui ligar para a mãe dele. Eu sabia que ela acordava mais cedo que nós, portanto não havia problema. Obviamente que não lhe contei pormenores, apenas lhe disse que tínhamos conversado e feito as pazes. Contei-lhe também da nossa saída e foi então que lhe pedi que ficasse com o nosso Milo, e ela disse logo que sim. Ainda me informou que o bebé tinha tido febre e até tosse durante a noite, o que me deixou preocupada, mas que por enquanto estava a dormir. Eu agradeci-lhe por tudo e assim que terminei a chamada comecei a fazer as minhas tarefas. Parecendo que não, quando parei e olhei para o relógio já era uma hora e ainda nem tinha comido. Vesti qualquer coisa confortável e peguei nas minhas coisas, indo depois para a casa da minha sogra. Depois de ter almoçado e ter mimado muito o nosso Milo, fui às compras. Comprei uma langerie nova, um vestido e uns sapatos, tudo nos saldos. Aproveitei para ir à esteticista, só para me pôr toda bonita para Mikko. Às cinco regressei a casa e fui-me arranjar, já a corree. Mesmo assim ainda tive tempo para encher um copo de vinho e bebê-lo nas calmas enquanto esperava.

Suspirei quando me confirmou que era ele mesmo e continuei, super atarefada. Parecia nem sei bem o quê... Começava agora a ver que a minha vida de agora em diante será um mais mais complicada. Sorri o melhor que pude assim que ele regressou e deixei que pegasse no nosso filho. Eram quê? Sete e qualquer coisa ou quase oito e eu já estava exausta como se já fosse meia noite? E Mikko... Ele tinha aquele perfume que eu tanto adoro, sim, mas... Os cheiros todos naquela cozinha, mais aquela fragrância, estavam a dar comigo em doida. Felizmente a comida do meu namorado já estava pronta, e Milo já tinha comido a sua papinha. - Eu estou bem, amor. - Sorri e menti, redondamente. Eu estava tudo menos bem. Mas o que é que eu poderia fazer? Preciso de arranjar tudo para o meu homem, preciso de tomar conta do nosso filho e de fazer as tarefas domésticas!
Varri os pensamentos e enchi-lhe o copo, segurando a bilha com as duas mãos antes que deixasse cair e fizesse porcaria. - Vens comer a casa, amor?

A resposta dela não me deixou totalmente convencido. Ia ficar a preocupar-me com ela o dia todo, por isso mais valia entender já o porquê - Não estás bem, não. Dormiste bem? - Questionei, esperando uma resposta honesta.
Como não tinha muito tempo, fui comendo, o que se tornou um pouco difícil pois Milo continuava ao meu colo e só queria brincar. - Hoje não vai dar. Tenho um almoço com um dos novos professores. Sempre passas por lá mais tarde e me fazes uma visitinha?

- Estou sim amor, eu estou bem, não tens de te preocupar. - Tentei ser mais credível desta vez, pegando entretanto no menibo ao colo. Ele não costuma ser assim, mas hoje estava demasiado rabugento. Respirei fundo. - Filhoz o pai ahora não pode brincar, ele tem de ir trabalhar está bem? - Tentei não ser tão séria com Milo, acariciando-o depois. - Ah, está bem amor... Bom, não tem mal, era só para saber. - Voltei a sorrir e encostei-me ao balcão, mordendo o lábio. - Sim, amor. Se eu puder eu vou lá, sim?

Não estava a gostar nada do cansaço que via nela. Mas bom, se ela não falava mais certamente comigo, então provavelmente não era nada de mal - Sabes que podes falar comigo sobre tudo, certo? - Esperava que sim. Terminei de comer. Olhei para o relógio. Já estava atrasado - Tenho de ir -Dei um beijo a cada um e saí apressado.

- Sim amor eu sei, mas... - Mikko cortou-me a palavra quando eu ia dizer algo semelhante. Nào ia falar com ele agora, não ia preocupá-lo porque ele tinha de ir trabalhar e precisava de estar comcentrado. Não tinha tempo agora para ouvir os meus queixumes. Correspondi ao seu beijo e acenei-lhe quando saiu. A partir daí, o meu dia fora terrivelmente atarefado. Toupa para lavar, estender, passar a ferro. Uma casa para arrumar, um filho para cuidar... Era suposto ter conseguido ir visitar Mikko, mas foi impossível. Quando terminei de arrumar tudo já só faltava meia hora para ele sair do emprego. Apressadamente, arranjei-me e arranjei Milo. Já tinha terminafo quando ouvi a campainha. Com ele ao colo, desci e fui até ao hall de entrada.

Não tinha dado com a sua presença se ele não tivesse falado. Estava demasiado perdida nas memórias que tinha daquele dia enquanto acariciava a fotografia com as pontas dos dedos. - Ahm... Estou com tanta fome que podes fazer o que quiseres amor. Escolhe algo que aches que é fácil. Não te ponhas armado em chef de cozinha. - Ri baixinho, indo depois até uma das cadeiras, sentando-me calmamente nela. - Amor... Quando o teu pai falou em querer estar presente na nova fase da tua vida... Ele estava a referir-se a quê? Aos negócios? É que fiquei com a ideia que ele pensa que nos vamos casar muito em breve e não entendi. - Ri novamente, observando-o de volta do telemóvel.

Felice decidiu não me ajudar com alguma receita. Pois bem, ia  provar-lhe que conseguia fazer alguma coisa comestível e complicada. Ia impressioná-la. Procurei um receita saudável e nutritiva - Tenho de fazer algo com. Vou surpreender-te - Pisquei-lhe o olho e comecei à procura dos ingredientes no frigorífico. Ouvi o que ela disse enquanto o fazia. - Ele devia estar a referir-se a tudo. Ao trabalho. À vida familiar. - Não nos iamos casar em breve, mas iriamos. A ideia de casamento ainda me assustava um pouco mas estava decidido a pedi-la em casamento brevemente. Queria-a como minha mulher oficialmente - De certa forma, trabalho para ele. É estranho. Ele estava destinado a ser teu sogro, reparaste? - RI-me.

- Faz o que tu quiseres, meu amor. Mas por favor não faças pouca comida. Eu estou de tal maneira esfomeada que acho que já nem vou comer por dois mas sim por três. - Ri, olhando-o. Ficar observá-lo podia ser de certa forma mau... Eu acabava por me perder na sua beleza e ignorar tudo e todos à minha volta. - À vida familiar? Nós já estamos juntos e temos a nossa família... Bem, vamos ter mais um bebé, mas... - Ri mais baixinho e encolhi os ombros. - Parece que sim... Mas eu prefiro dizer que nós é que estávamos destinados um para o outro. - Esbocei-lhe um doce sorriso e voltei a acariciar a minha barriguinha. - Se precisares de ajuda podes perguntar, amor. - Informei e respirei fundo. - Mikko...

A receita que estava na app dizia que era para quatro pessoas. Devia chegar - Brinca, brinca. E se estiveres realmente  a comer por três? - Soltei uma gargalhada um pouco nervosa. Comecei a preparar as coisas. Era um pouco lento. - Sei lá, talvez ele queira cumprir o papel de avô e de sogro. Amanhã saberei quando falar com ele - Sorri para Felice - É isso mesmo. Estávamos destinados - Parei o que fazia por algum tempo só para lhe ir dar um beijinho - Sim?

- Por três? O quê, eu, grávida de gémeos? Ai amor nem me digas uma coisa dessas, fico nervosa só de pensar, mas... Bem, nunca se sabe. - Engoli em seco e esperei que se aproximasse de mim. - Podes dar-me um copo de água, por favor? - Pedi baixinho, mordendo o lábio. - Tenho de arranjar a roupa para amanhã vestir... Mas nem estou para pensar nisso agora. - Ajeitei o cabelo e suspirei

Nunca se sabia, realmente. Com a nossa tendência para sermos surpreendidos com coisas assim, mais valia preparar-me para essa possibilidade - Damos conta do recado mesmo que sejam dois - Pisquei-lhe o olho, na brincadeira. Fui buscar-lhe um copo de água e pousei-o em cima do balcão, à frente dela. - Aqui tens. Vocês, mulheres, preocuparem-se com coisas dessas. É só um almoço. Ainda para mais em casa da minha mãe. Já lá foste centenas de vezes. Vais bem seja com que roupa for.

- Ai amor eu nem sei se consigo tomar conta de duas crianças ao mesmo tempo, quanto mais três... Pensar nisso deixa-me tão nervosa amor... - Mexi no cabelo e respirei fundo, olhando Mikko depois. - Amor? Tu... Achas qur sou boa mãe? - Acabei por baixar o rosto assim que fiz a pergunta e mordi o lábio, mudando de assunto de seguida. - Eu gosto de estar bem vestida amor, tu sabes... E depois, quero que o teu pai perceba bem que eu já não sou a "miúda" que era há uns tempos atrás e que sei tomar bem conta do meu homem.

Porquê que de repente ela ficara assaltada com tantas dúvidas? Não tinha sido essa a minha intenção - Claro que és uma boa mãe, Felly - Respondi seriamente - A melhor - Sublinhei e então esbocei um sorriso. - Acho que já o fizeste entender isso. Olha só para ti,amadureceste imenso a rapariga que conheci naquela tarde no colégio...

- Mesmo? Eu sei que isto para ti deve parecer estranho, mas... Não sei, tenho-me sentido assim nos últimos dias. - Encolhi os ombros e comecei a sorrir assim que me falou do dia em que nos conhecemos. - Ah, fiquei logo presa na tua rede, mas que chatice. Nós bem acabámos por dizer e fazer coisas para nos convencermos que não tínhamos sentimentos um pelo outro e olha como estamos agora. - Ri baixinho e suspirei. - Olha... O nosso antigo quarto no colégio está ocupado? Gostava de lá voltar um dia..

- És uma tonta - Retorqui, abandonado a cabeça. Continuei a cortar os pedaços de vegetais que ia lourar. Já tinha posto a carne a grelhar. Até agora parecia que estava a safar-me bem. - Por mais que houvesse uma altura em que o negasse, já estava rendido a ti desde o primeiro dia. Fui eu que caí na tua rede, não o contrário - Pisquei-lhe o olho. - Não sei, mas posso averiguar isso. Queres ir matar saudades, é? - Ri-me. Já fazia mais de  dois anos desde que tínhamos saído de lá.

- Adoro a maneira como tu falas de mim... - Ele falava de mim da mesma maneira que eu: apaixonadamente. Fiquei a sorrir para ele enquanto acariciava a minha barriga. - Sim... Quer dizer, aquele lugar traz-me tantas recordações... Já alguma vez acabaste por parar de andar enquanto ias fazer algo do teu trabalho e seres apanhado por uma memória? - Ri baixinho e depois tentei espreitar. - Cheira tão bem!

Com as coisas já ao lume, tive algum tempo para me dedicar a Felice. Fiquei perto dela, toquei-a, acariciei-a, como gostava tanto de fazer. Sorri quando ela mencionou aquilo pois era precisamente isso que acontecia - Sim, já. Muitas vezes. Deixa-me sempre bem disposto - Tinha de concordar com ela. Eu devia ser um cozinheiro muito bom - Mais dez minutos e temos comida na mesa.

Ri baixinho e acariciei a sua mão. - Tenho pena de não ter visto nada disso. E quando eu for visitar o nosso quarto vai ser estranho e muito contraditório. Quer dizer, vou estar chorosa e dizer: Aww, fizemos amor ali, e ali, e ali, e ali... E ali. Que romântico. - Ri logo de seguida e suspirei. Eu tinha boas memórias, era verdade, mas também tinha algumas... Menos boas. Mesmo assim, quando os meus olhos passaram por algo vermelho, eu tive um flash, uma memória do acidente que tinha tido há não muito tempo, com o seu Ferrari. Encolhi-me e abracei-me, protegendo a barriga logo.

Não era apenas o quarto que guardava memórias dessas. Nós tínhamos feito amor em muitos, muitos sitios. Quanto a isso não me podia queixar. - Não aguento quando começas a chorar, mesmo que seja por algo bom - Soltei uma gargalhada. Notei logo a sua súbita alteração. As minhas mãos pousaram nos seus ombros e fi-la encarar-me - Felice, o que se passa? Amor?

Estava tudo demasiado vivo na minha cabeça, de tal maneira que era quase como se eu estivesse a sentir as dores e o pânico que sentira naquele momento. Só a sua voz é que me fez acordar e me aperceber que aquilo não passava de uma má memória e que eu estou, de facto, bem. Suspirei e sorri-lhe, assentindo. - Sim amor, está tudo bem. O que é que estavas a dizer? Desculpa, fiquei aqui meio perdida em pensamentos sem querer. - Ri baixinho e encolhi os ombros. Não entendi ao início, mas depois lembrei-me. A última vez que fui ao College foi para discutir com Mikko, e foi depois disso que tive o acidente. Talvez tenha sido por isso que me lembrei. - Vê lá o comer, antes que o estorriques!