Ruas

Sorri ligeiramente e sentei-me o melhor que pude. Assim que ele se aproximou mais de mim e abracei-o da melhor maneira que consegui, mesmo estando com aqueles fios todos ligados a mim. Beijei-o calma e apaixonadamente e quando os nossos lábios se afastaram, ele voltou a sentar-se - Conseguiste dormir? Comeste alguma coisa, amor? - Perguntei, preocupada consigo

Inclinei-me sobre ela para a ajudar melhor a abraçar-me. Tive também cuidado para não a magoar. Ela estava muito frágil. Tentei retribuir todo o meu amor naquele beijo mas não consegui. Acho que era por ainda estar em choque. - Não te preocupes comigo, princesa.

- Não fizeste nem uma coisa nem outra, pois não? Oh amor, vai comer algo, por favor.. E também tens de descansar amor - Afirmei preocupada, acariciando a sua mão que estava perto da minha - É claro que me preocupo amor. Tu... Já sabias? Antes de a médica dizer? - Perguntei baixinho

Dormir não fora preciso até agora. Também não tivera fome por isso... - Não tenho fome, Felice. E não quero que te preocupes comigo agora - respondi. Ela tinha era de se preocupar com ela. - Sim, já sabia - afirmei. Suspirei.

- Está bem amor, está bem.. - Afirmei quando ele disse que não tinha fome e virei-me melhor para ele, aconchegando-me. Mordi o lábio quando ele disse que sabia - Oh.. - Murmurei e fechei os olhos, sem largar a sua mão

Pelos menos a parte do aborto espontâneo fora pelo melhor. Só lamentava que ela tivesse de passar por todas aquelas dores e ter ficado à beira da morta. Peguei na mão dela carinhosamente - agora já passou tudo.

- Sim, amor.. Já passou.. - Murmurei, fechando os olhos por alguns segundos - Desculpa.. Não era suposto a viagem ser assim.. Era suposto estarmo-nos a divertir.. - Lamentei baixinho, olhando-o enquanto me dava mais um beijinho na mão

- Não foi culpa tua - foi minha, pensei. - Ainda temos tempo para aproveitar um bocadinho do resto da viagem - se bem que ia ser difícil esquecer tudo isto e simplesmente ir perder a cabeça em Vegas.

- Sim.. Não sei quanto tempo vou ter de ficar internada mas não deve ser muito tempo amor.. - Murmurei e acabei por fechar os olhos - Sinto-me tão cansada.. - Sussurrei

Iam ser pelo menos uns dois dias. Ela estava fraca e precisava de recuperar ali no hospital, sob a atenção dos médicos.
- Então devias descansar. Dorme mais um pouco.

- Sim, eu vou dormir mais um bocadinho.. Amo-te, meu amor - Sussurrei, deixando-me levar pelo cansaço e dores que sentia. Continuei a segurar a sua mão enquanto dormia, mas não com muita força, apenas ao de leve

- Fazes bem - murmurei baixinho e fiquei a vê-la dormir. Sem querer, acabei por ir fechando os olhos. Pousei a cabeça na beira da cama, perto da sua mão, e adormeci.

Dormi pacificamente o resto da noite. Quando acordei, Mikko estava ainda a dormir. Levei a mão aos seus cabelos, mexendo-lhes levemente. Sorri e ajeitei-me na cama, estava-me a sentir bastante desconfortável

Fui abrindo os olhos lentamente. Não acreditava que tinha finalmente pregado olho, especialmente durante umas tantas horas seguidas. - hey - disse num tom de voz ainda sonolento - como te estás a sentir?
 

- Bom dia amor.. - Murmurei, sentando-me depois na cama, entre alguns gemidos de dor - Dorida.. Mas pronto, não me sinto tão mal, nem cansada - Disse baixinho, acariciando-o - Des estar cansado amor.. E dormiste todo torcido..

Alegrava-me um pouco que ela se estivesse a sentir um pouco melhor. Mesmo assim, continuava numa maca de hospital e só por isso eu continuava furioso comigo mesmo. - Isso vai passar - murmurei.
- Não te preocupes comigo, Felly. Estou bem - apenas com um torcicolo mas nada de mais. Espreguicei-me. Minutos depois, a médica entrou no quarto.

- Claro que vai, amanhã já estou melhor e tudo - Murmurei, acariciando a sua mão.
Olhei a médica que entretanto entrara, olhava-me com um sorriso doce. Rapidamente se colocou ao meu lado, observando as máquinas, e observando-me a mi, examinando-me atentamente

Eu esperava sim que ela ficasse melhor. Mas podia esperar. Queria-a bem recuperada. 
Afastei-me para que a médica a analisasse melhor. Queria saber como estava a recuperação de Felice.

Depois de algumas verificações nas máquinas e de me olhar umas não sei quantas vezes, ela pediu-me que me inclinasse um pouco para o seu lado. Retirou o lençol e levantou-me aquela vestimenta horrível de hospital, para me observar. Eu virei a cara para o outro lado, olhando Mikko enquanto ela mexia lá, cuidadosamente. Apesar de todo o seu cuidado, todo o toque, por mais leve que fosse, magoava bastante. Ela pouco depois parou, colocou bem aquela roupa que cobria o meu corpo e deu-me ordens para me voltar a deitar bem como antes, e tapou-me com o lençol. - Bem, pelo que vi está tudo dentro do normal. Não me parece que haja alguma infecção, ou coisa do género. Daqui a pouco a enfermeira traz-te algo para comeres. Com a medicação toda que andas a ingerir, é importante que comas bem - Afirmou, olhando os meus braços, para ver se estava tudo bem posto. Voltou a sorrir-me - Tudo vai correr bem, está bem, Felice? Se por acaso, depois de tudo isto, precisares de acompanhamento, liga para este número. Ela ajudar-te-á. - Disse de forma rápida e objetiva, mas eu não entendi muito bem. Eu segurei no pequeno cartão de visita e perguntei:
- Acompanhamento? - Murmurei, olhando para ela. Ela apenas assentiu e disse que tinha de ir e voltava mais tarde. Observei o cartão e li que era o número de uma psiquiatra. Fiquei meio confusa e fiz uma careta

Fiquei mais descansado depois de a média a analisar. Se estava tudo bem (dentro dos possíveis) então era assim que devia ser. Quanto mais rápido ela melhorasse, mais cedo podíamos esquecer aquela horrível história toda. 
- O que é esse cartão?

- É de uma psiquiatra.. - Afirmei, dando-lhe o cartão. Encolhi os ombros e suspirei. Porque é que eu havia de precisar de uma psiquiatra? Eu estou perfeitamente bem da minha cabeça.

Uma psiquiatra? Porque haveria a médica de lhe dar aquele contato? Não era como se Felice tivesse ficado afetada pelo aborto ou afeiçoado ao bebé para ter de falar disso a um psiquiatra. Nós precisamos era de esquecer aquele assunto e continuar com as nossas vidas. 
- Estranho.

- Perdi um bebé e agora acham-me maluquinha da cabeça, oh valha-me.. - Respirei fundo e tapei os olhos com a mão. Eu estou perfeitamente bem, não preciso de nada disto

A minha o assunto não me afetava. Para Felice, parecia o mesmo. Mas eu sabia que ela por vezes conseguia esconder o que sentia de mim. Seria?
- Não ficas triste pois não? Quero dizer, com o aborto e tudo o que se passou.

Estava a olhar os meus dedos que brincavam uns com os outros, enquanto ele olhava o cartão. Parei de os mexer quando ouvi a sua pergunta, e permaneci quieta. Eu estou bem. Suspirei e cocei o braço com cuidado. Estou bem, ou finjo que estou? Já nem sei como estou. - Eu? Não, amor.. - Abanei a cabeça e encolhi os ombros.