Hotel

Só Felice para dizer coisas daquelas e me aquecer o coração. Credo, estava a ficar muito lamechas, não estava correto. Nem tive tempo de me despedir, vi-a caminhar até à zona com comida. Apreciei o seu belo rabo naquele vestido justo - damn... - ia saber muito bem tirar-lhe aquele vestido logo. Tinha-lhe preparado uma surpresa especial para isso mesmo...
Fiquei só eu e Milo - Vamos ver se encontrámos alguém da tua idade com quem brincares. Uma menina bonita. Vais gostar disso, não e?
- Shim! - E ria-se.

Assim que peguei num dos bolinhos que gostava virei-me para trás, avistando-os. Eles são tão fofos, e então juntos... É demasiada fofura para uma divisão só. Sorridente e distraída, continuei a comer mais alguns petiscos que tinha agarrado entretanto. Virei-me de novo para a mesa e peguei num copo vazio, enchendo-o com gasosa. Uma vez que não podia beber álcool, os refrigerantes iriam ter que servir.

- Bons olhos te vejam, Fellyzita - Só não deixei cair o mini pastel de nata porque não queria fazer nenhuma figura triste. Mas que estremeci como se tivesse ouvido uma voz terrivelmente assustadora... Lá isso estremeci. Engoli em seco e endireitei-me, sem me virar ou olhar para o local de onde vinha o som. Eu conheço esta voz. Apenas por cortesia, lá acabei por olhar. 
E ali estava ele, o rapaz com quem os meus pais queriam que eu casasse quando fiz os dezoito anos. Detestava a maneira como ele dizia o meu nome, e o tom que usa quando o diz. Fiz um sorriso forçado e desejei que Mikko aparecesse de repente, como se tele-transportasse, e me protegesse. Mesmo sem eu precisar de protecção.
- Boa noite, Mickael. - Cumprimentei, bebendo um pouco do meu sumo. Olhei para Mikko, que ainda continuava distante. Mais distante do que eu queria que estivesse.
- Então, também és uma Sullivan agora? - Não quis ser mal educada, mas também me apetecia aparecer na capa das revistas.
- Creio que não tens nada a ver com isso - Retorqui com um sorriso sarcástico, virando-me novamente para a mesa para pegar em mais alguma coisa para comer. Agora não era por vontade, era simplesmente uma desculpa para não ter de lidar com aquele.

Eu arranjo sempre qualquer coisa xDDD

Havia algumas crianças a brincar numa sala à parte. Até nisto a minha mãe se lembrava. Deixei Milo depois de ver que ele se integrara e já arranjara duas meninas com quem brincar. Despedi-me dele e voltei para o salão principal e procurei por Felice. Foi fácil encontrá-la pois ela era a mulher mais perfeita que ali estava... e quem raios era aquele meia-leca a falar com ela? Os meus ciúmes elevaram-se e dirigi-me a largas passadas até eles.

Mickael aproximou-se de mim o mais que pôde e, muito discretamente, rodeou a minha cintura com o seu braço esquerdo, como se nada fosse. Como se nem eu sentisse o que ele tinha acabado de fazer.
Cerrei os dentes e respirei fundo, tentando ao máximo não me passar.
- Então...? Não fales assim ao teu, ahm... Como é que eu hei-de dizer? Ex-noivo? - A risada trocista dele fez-me rosnar, baixinho. Dizer que o odiava era pouco. - Ouvi dizer que já és casada e tens um filho... O que é estranho, porque não quiseste casar comigo, mas foste casar com esse Sullivan - Apesar de ele ter um sorriso sacana exposto, falava mais sério que sei lá o quê. E descia aquela sua mão nojenta. Dei-lhe uma cotovelada e afastei-me o mais que consegui, sem dar grande barraca. Infelizmente foram apenas três centímetros, porque tinha outra pessoa mesmo ao meu lado a tentar escolher um dos petiscos. Quando olhei para trás, senti-me aliviada. Mikko aproximava-se, aleluia.

Cheguei perto de Felice com um sorriso amistoso, mas o olhar de um leão. Mas isto tudo mudou quando me apercebi da maneira de como ele estava a tocar nela. Aí decidi que ia partir para a porrada com aquele gajo! Mas então ela livrou-se dele. A minha Felly, isso mesmo.
Cheguei lá e afastei Felice dele, colando eu o braço em volta da sua cintura - Está a incomodar-te, meu amor? - Não olhava para ela, mas sim para esse.

Suspirei de alívio quando Mikko me colou ao seu corpo ligeiramente musculado e trabalhado. O meu príncipe veio salvar-me. Como sempre. Olhei Mickael de lado e esbocei um sorriso pequeno e forçado.
- Não amor, está tudo tratado e conversado. Este senhor estava só a fazer algumas questões que são referentes à minha vida privada mas, como é lógico, não lhas vou responder - Ri, sarcasticamente. Fuck off. O problema é que também ele riu dessa forma, e nem assim deu de frosques.
- Ah, então é você o marido da Fellyzita? Prazer em conhecê-lo - Afirmou, estendendo-lhe a mão com aquele seu sorriso que mete nojo ao próprio nojo.

- É Felice Scorpius-Sullivan para ti - Era desnecessário dizer que ela na verdade não era Sullivan porque não estávamos casados efetivamente - Quem és tu? - Quis saber se rodeios. Ignorei a sua mão porque não me importava minimamente em ser educado com aquele gajo que não me inspirava confiança nenhuma.

Antes que eu pudesse sequer abrir a boca, ele apressou-se a ser ele a contar-lhe quem realmente era. O que me tinha sido, num passado que me parecia tão longínquo que até parecia ter-se passado numa outra vida.
- Chamo-me Mickael. Eu e a Felly... - Ele sorriu e corrigiu-se - Quero dizer, Felice. eu e a Felice estivemos noivos. Sou o "ex-noivo" dela - Afirmou, como se se orgulhasse disso, como se estivesse a marcar pontos. Acabei por desviar o olhar, revirar os olhos e bufar baixinho.

Fiquei surpreendido com a história de Mickael mas ao olhar para Felice percebi que era verdade. Já mal me lembrava daquela história, mas isso não impediu de me roer por dentro. Se bem me lembrava, ela tinha fugido por não ter querido casar com ele e fora isso que a levara até ao colégio.
- Perdeste a oportunidade. Não sei o que estás a fazer neste evento, mas vou pedir-te com educação para que te vás embora. À segunda não vou sertão gentil - Era uma ameaça a sério.

 - Ora... - Começou, dando um passo largo em frente para se aproximar mais de Mikko. Assim poderia falar mais baixo para só ele o ouvir. - Isto não são maneiras de tratar os convidados. E sim, eu fui convidado e excelentemente cumprimentado pela Grace Sullivan. Portanto... Eu não vou a lado nenhum, meu caro - Afirmou, novamente com o seu sorriso mete-nojo. Eu mesma suspirei alto ao ouvir o que ele disse e abanei a cabeça.
Ao aperceber-se do meu gesto, Mickael levou o copo de champanhe que tinha numa das mãos aos lábios e bebeu um trago. Manteve o olhar preso no de Mikko e afastou-se novamente.
- Bem, eu tenho mais gente para cumprimentar, portanto... Divirtam-se, e tenham uma boa noite! - Mickael olhou Mikko de soslaio e piscou-me o olho a mim. Acho que o meu marido só não lhe foi partir as ventas naquele instante porque eu lhe apertei a mão e o mantive por perto. Porque se não... Iria ser o mesmo que soltar um leão feroz, com a fome e a fúria à flor da pele.
Coloquei-me à frente do meu mais que tudo e acariciei-lhe o rosto - Calma, amor...

Ele deu um passo em frente, ficando a meros centímetros de mim. Ele era pouco mais baixo do que eu, mas mesmo assim teve de levantar a cabeça para me olhar nos olhos enquanto fazia o seu discurso idiota - Asseguro-te que vais sair desta festa mais cedo do que imaginas - Eu próprio o teria levado pelo colarinho lá para fora, mas não a armar escândalo na festa da minha mãe. Também não queria stressar Felice.
- Que idiota - Disse, já quando ele se afastou e observei Felice - O que é que ele te disse enquanto estavam a sós?

Suspirei e mantive a minha postura, olhando Mikko enquanto lhe contava a breve conversa - Odeio que me chame Fellyzita,.e então com aquele tom mete-nojo... Não sei o que é que ele quer, nem o que quis dizer com "não quiseste casar comigo mas casaste com ele! - Respirei fundo e bebi o resto do meu sumo - Enfim, amor
Gente mete-nojo só quer fazer isso e mais nada..

- Ele vai-se arrepender, meu amor. Ele vai-se arrepender... - Jurei porque qualquer pessoa que irritasse Felice estava na minha lista negra e daquele gajo trataria, se não cedo então mais tarde. - Se ele se voltar a aproximar de ti, diz-me. Mas falando de melhores coisas... - Suavizei a minha expressão - Esta noite a minha mãe fica com  Milo. Tenho uma surpresa para ti.

- Sim meu amor, eu conto-te logo, prometo - Falei sincera, dando-lhe um beijinho na bochecha e depois o meu sorriso foi crescendo.
- Uma surpresa? Para mim?! Aii que bom! - Afirmei, toda contente, beijando-o nos lábios. Pouco me importava se estava a olhar ou a fotografar-nos. Que se lixe!
- E não me queres dar assim nenhuma dica e tal...?

- Não te vou dar nem uma pista. Vais ter de ficar na expectativa - Ri-me.
A festa foi-se prolongando. A minha mãe era uma excelente anfitriã e a festa não foi tão aborrecida como eu pensava. Eu, ela e o meu tio subimos ao palco a agradecer o gesto de caridade daqueles que contribuíram para o sucesso do evento e que tinham doado para caridade. O momento da noite foi Milo ter subido ao palco também, embora não tivesse sido suposto. Acho que tocou todos os corações.

Dava para ver a felicidade de Grace assim que o seu filho concordou em ir ao palco com eles sem ninguém ter de insistir. Acho que nunca vi tão feliz sequer. Eu bem tentei travar Milo e impedi-lo a subir para o palco, mas não fui capaz. Toda a gente sorriu quando Milo foi quase a correr até ao pai, chamando por ele. Eu tive de me conter imenso para não chorar e foi o meu próprio filho que me ajudou a não o fazer. Mikko pegou nele ao colo e ele aproveitou o facto de estarem todos calados e estar perto do microfone para se chegar a ele e dizer "papá"! O mais engraçado foi quando ele começou a bater palminhas e todos seguiram o seu exemplo. Até eu.
Atirei-lhe beijinhos, e ele retribuiu. É o nosso menino! Só esperava que ninguém se lembrasse de me chamar ao palco, porque eu não tenho direito para nada disto e ainda começo a chorar.
Mantive-me em pé, sorrindo enquanto via os meus lindos meninos.

Apesar de tudo, a família estava incompleta. Os Sullivan já não eram somente o meu tio e a minha mãe, nem eu e Milo. Faltava uma pessoa mais. Apoderei-me do microfone - E falta a minha belíssima mulher, Felice. Felly, junta-te a nós! - Disse divertido, vendo-a corar assim que falei.

Eu mato-te, Mikko Sullivan! Eu devia de estar tão vermelha... Sei lá mais vermelha que o meu vestido até! Respirei fundo e lá ajeitei o vestido, caminhando até ao palco. A última vez que eu estive num palco a sério, ainda que mais pequeno que este, foi para... Felice, concentra-te.
Assim que cheguei perto de Mikko dei-lhe um beijinho rápido e agradeci a todos, sem me atrever a aproximar daquele microfone. É que nem pensem...
- Tu... - Resmunguei muito baixinho para o meu marido, tentando manter o sorrisinho.

Estava a sorrir imenso pois sabia que isso provocaria Felice.
Ainda em cima do palco fizemos um brinde mas a minha mãe não conseguia estar calada para mal de Felice - E aproveito esta ocasião para também agradecer à minha nora, a Felice, que mudou as nossas vidas. É como uma filha para mim. O meu filho é um sortudo. Mais ainda, vai fazer de mim novamente avó! Uma salva de palmas. Felice, vem cá dizer umas palavras. 

Acabei por arregalar os olhos mal ela começou a falar de novo, e ainda por cima de mim. A minha expressão foi suavizando, e acabei por passar a mão pela barriguinha quando ela anunciou a minha gravidez.
"É como uma filha para mim"... Mas ela tem noção do quanto eu me estou a esforçar para não me pôr aqui a chorar? Respirei fundo e engoli em seco. Umas palavras? E digo o quê?!
Aproximei-me de Grace e dei-lhe um abraço e um beijinho, e depois lá me pus a jeito. Anda Felly, fazes parte da família, tens de conseguir. - Obrigado, Dona Grace - Disse, sorrindo-lhe. Voltei-me para o público que me aguardava e suspirei baixinho - Assim como eles, agradeço imenso pela vossa presença e pelos vossos donativos. É muito importante para nós, mas especialmente para aqueles que mais precisam. Muitas vezes nós queixamo-nos de problemas que temos que, à beira dos desta gente, não são nada. Há quem não tenha absolutamente nada. Nada para comer, nada para vestir... Nada. E é nosso dever ajudarmos estas pessoas, que tanto merecem. E é por eles que nós aqui estamos hoje, é por eles, não por nós. Não se trata de vestir uma bela fatiota e pousar para mostrar que estamos bem. Trata-se de nos juntarmos e ajudarmos aqueles que mais precisam. E por nos ajudarem a ajudá-los nos agradecemo-vos, do fundo do coração. Muito obrigado - Sorri a Grace que estava ao meu lado, com as lágrimas nos olhos. Esperei que o barulho das palmas fosse diminuindo e continuei - Por fim, quero então agradecer a esta grande senhora, Grace Sullivan, que tem sido como uma mãe para mim. Eu é que sou a sortuda, tenho duas mães, um marido maravilhoso, e um filho perfeito. E outro aqui - Pousei a mão na barriga e ri baixinho. Estremeci quando vi que Mickael ainda ali estava num canto, a olhar-me daquela maneira. Tentei prosseguir e concluir o meu discurso. - Eu sou uma sortuda por fazer parte desta família. Obrigado - Aproximei-me de Grace e abracei-a com carinho. Abracei o tio de Mikko a seguir, e por fim dei uma beijoca na bochecha do meu filhote e claro, uma beijoca apaixonada ao meu marido.

That's my girl.
Em biliões de pessoas no mundo, duvidava que alguma fosse tão perfeita como Felice. Sabia, no meu intimo, que se não fosse ela, nunca teria sabido o que era o amor. Nã havia remotamente sequer outra mulher que pudesse ser perfeita para mim como ela era. Felice já era uma Sullivan mesmo que não estivéssemos casados!
A festa prosseguiu mas começava a terminar.  Entreguei Milo aos cuidados da minha mãe e saí do salão com Felice pela mão. beijei-a carinhosamente - preparada para a minha surpresa?

Correspondi ao beijinho com muito amor e carinho e olhei-o nos olhos - É claro, amor! Não faço menor ideia do que esteja, por isso estou um bocadinho nervosa - Ri baixinho e dei-lhe mais um beijinho - Vá, não me faças esperar mais por favor amor... O que é? Ah, anda lá Mikko! - Ri, um bocadinho desesperada por uma pista que fosse.

- Vais ter que esperar só mais um bocadinho... e vendada! - Mesmo com os seus protestos, coloquei uma venda sob os seus olhos. Então conduzi-a com cuidado até ao elevador. Levou-nos para o último andar do hotel. Encaminhei-a até à suite que tinha reservado. Passei o cartão e abri a porta. Lá dentro o interior estava iluminado a velas e decorado com pétalas de rosas. - Podes tirar a venda.

Acabei por suspirar quando me falou na venda. Deixei que ele ma colocasse, e fui então com ele, sabe-se lá para onde. Só percebi que era no hotel, e que tínhamos andado de elevador. Quando retirei a venda, fiquei de boca aberta - Oh, Mikko... - Murmurei, emocionada. Se eu há uns tempos atrás diria que Mikko Sullivan era capaz de fazer uma coisa destas, tão... Romântica. Depois de olhar bem em redor e estudar cada detalhe da minha surpresa, caminhei até ele e abracei-o.
- Obrigada amor, obrigada... - Murmurei, beijando-o depois.

O pessoal do hotel fizera um óptimo trabalho no que tocava à decoração romântica. Acendi apenas as luzes de presença, para que a iluminação se devesse maioritariamente às velas. Havia ainda alguns frutos vermelhos, chocolate e champanhe numa mesa, mas pelo menos aquela bebida ia ficar fora dos planos. Se ela não podia consumir álcool, eu também não o iria fazer.
Aproveitei o beijo e puxei-a para mais para mim, colocando as minhas mãos na sua cintura - Deduzo que tenhas gostado. Queria dar-te uma noite especial. Depois de tudo o que passaste, merecias uma e... bom, a verdade é que perguntei ao teu médico se podias fazer sexo, apesar de tudo e , hum... não fazemos amor à tanto tempo... Queria apenas que fosse especial.