Piscina Exterior

Senti uma leve felicidade dentro de mim. Se tinha de estar casada com alguém durante 6 meses, não era para os passar sozinha. Ao menos podia esfregar ao velho que me tinha divertido. Ou algo parecido a isso. - Então... preferes passar o dia comigo? - perguntei e fiz uma cara matreira, retirando todo o orgulho dele.

Apostava que ela sentia alguma satisfação com a minha mudança de ideias.
- hum... sempre é melhor do que estar sozinho naquele quarto - ou então não, pensei.

Soltei uma gargalhada cínica. - Custou muito? - perguntei, querendo fazê-lo admitir que estava com medo - Está bem, e vamos onde? - perguntei, olhando em volta, à procura de ideias.

Estive prestes a revirar os olhos. Pois, ela adorara que eu me rebaixasse.
- Custou se não fosses tão chatinha com isto. Para além disso és minha "esposa", é suposto passar tempo contigo. - dizer aquilo aligeirou a minha má disposição - Não sei. Onde queres ir?

Olhei para os meus dedos. Ew, estava mesmo a usar uma aliança. Que nojo. Nem quando era uma criança a ver desenhos animados com o meu pai, filmes tipo Bela Adormecida e Cinderela, eu me quis alguma vez casar. Pelo contrário, eu era aquela que tapava a cara, enojada com o beijo que davam sempre do final. - Então, querido marido, deviamos ir às compras, e devias ajudar-me a limpar a casa, passar a ferro, e isso tudo... deves pensar que sou tua criada, mas isto agora vai mudar!!! - dramatizei, imitando o discurso de qualquer dona de casa.

Não consegui não me rir com a sua encenação idiota. Fora as piadas secas, ela conseguia ser divertida. - Sou capaz de ser menos desarrumado do que tu, querida. Estás a falar a sério em relação às compras?

Suspirei. Até com a voz mais sarcástica e estúpida de sempre ele conseguia cair. - Não - disse simplesmente. Se dissesse mais alguma coisa era provavel gozar com ele e perder a aposta. - Vá, decide lá alguma coisa. Divertida, por favor.

Pois, obviamente que ela não estava a falar a sério.
Pensei nalguma coisa que pudesse ser divertida. Eu não a conhecia, nem à cidade. Por isso fiquei-me por ideias básicas. - Saiu um filme novo para o cinema. Pode ser giro.

-Romance não, por favor! - implorei. Aquelas cenas lamechas, para além de serem estúpidas, deprimiam-me sempre. Não sei bem porquê, se odiava aquilo. - Terror? - pedi e mudei para um sorriso forçado.

Fiz uma careta - E tu achas que eu vejo romances? Eww - Tanta as odiava como adorava (secretamente). Por isso nunca via.- Terror também não. - e nem por sombras ia admitir que esses filmes me metiam medo - Sou mais de ficção cientifica e filmes assim.

Arqueei as sobrancelhas - Terror não porquê? - perguntei, curiosa. - E ficção cientifica até nem é mau, mas não se compara a terror. - cruzei os braços, defendendo o meu género de filmes. - Por favooooooooooooooor - pedi mais uma vez. Eu é que ficava a perder se ele tivesse medo, afinal, não ia resistir MESMO a mandar uma piada.

- Porque não me apetece ver filmes de terror - justifiquei, fingindo um tom de normalidade. - Mesmo, Melanie? Terror? - teria de ceder desta vez.

Era a última vez que insistia. - Por favor. Até podes ser tu a escolher. Se me conseguires assustar, ganhas automaticamente a aposta! - lembrei-me. Não sei o que se passava comigo. Ia perder facilmente a aposta com uma coisa daquelas. Eh, era só uma bebedeira que ia apanhar, se isso acontecesse.

Terror. Mentalizei-me que íamos ver um filme de terror e que provavelmente ia ficar com pesadelos durante uma semana. - Ok, seja terror. Eu escolhe e prepara-te, vou escolher o pior de todos.

Ri-me com a sua resposta. Claro, claro... acreditava muito nele - Quero ver isso. Aposto que até já vi esse "melhor". - muito tempo sozinha equivalia a muito tempo para ver filmes. Filmes de terror eram, como eu já tinha dado a entender, os meus preferidos, por isso já tinha visto todos os bons. O que até era fantástico. Já estava pronta para o assustar na parte do suspense.

- Tens ido ao cinema ultimamente? - Perguntei, ganhando tempo para pensar numa estratégia para não me embaraçar ainda mais. Aproveitei para conferir o dinheiro que tinha na carteira - Acho que podemos ir. Escolhemos o filme lá. - Mentalmente fazia figas para que não houvesse nenhum filme de terror em cartaz.

Percebi logo onde ele queria chegar. Pensava que eu era muito mais parva do que na realidade. - Não vou desde que vim para cá. Mas se quiseres ir ao computador procurar na internet o cartaz... - provoquei, com uma cara maliciosa. Só queria comprovar que ele tinha um vício, e que nem nisto se ia conseguir controlar!

- Não preciso de ir ver nada, já que vamos na mesma, vejo lá - Se bem que, agora que ela me recordava, já fazia uma hora ou duas desde que estivera no computador pela primeira vez. A ideia de ficar entretido com o meu melhor amigo em todo o mundo, o meu Acer, era maravilhosa comparada com a ideia de ir ver um filme de terror.

Arqueei as sobrancelhas, espantada. Apesar do seu nervosismo notável do afastamento do computador e das mamas virtuais, estava-se a aguentar bem... Mas eu ainda não tinha acabado - Tens a certeza? Também podemos ficar a ver o filme pelo computador. Sempre estamos na paz dos dormitórios - sugeri. Queria ver qual era a sua reacção a ver tão proximamente um filme com uma miúda. Ele era como um brinquedo para eu fazer experiências inocentes. - Ou tens medo de fazer downloads ilegais?

Não sabia o que era pior. Ver o filme ali com ela, à mercê da intimidade que isso exigia, ou ir para o cinema e sujeitar-me a fazer figuras em público. A primeira parecia mais segura, se bem que nenhuma me agradava. - No B há uma sala de cinema... - Engoli a seco mas depois ri-me convencidamente - Estás a gozar? Eu sou o master dos downloads - Gabei-me.

Admito que fiquei impressionada com a sua resposta. Estava mais à espera que ele fosse um betinho com medo de downloads ilegais, apesar de também não ser de admirar que fosse um génio informático, com tantas horas online. - Bem que posso usar isso a meu favor depois - comentei, assustando-o. Não, a sério. Nunca fui grande espingarda em informática e downloads de música dão sempre jeito... Afinal ainda havia vantagens neste colégio, quando se calha com um nerd no quarto - Vamos para o B então! - exclamei, contente, e peguei nas minhas coisas.

Fiz uma careta. Não sabia o que ela queria dizer com usar isso a seu favor, só esperava que não fosse mais alguma ideia maluca. Resignado a que íamos mesmo ver um filme, peguei na minha toalha e resto das poucas coisas que tinha e segui atrás dela para o B.

encerrado.