Hospital

Esfreguei os olhos e tentei pôr-me noutra posição, observando-o melhor agora - O que é isso que tu tens na cara? magoaste-te? - Perguntei preocupada, esticando o braço e a mão mas não chegava até ao seu rosto - E... E o trabalho, Mikko? Tu estavas tão... - Como é que haveria de dizer aquilo? Empenhado? Era mais obcecado, na realidade. Não gostava muito da faceta principal daquele Mikko, o empresário. Não se importava com a família, não se importava com ninguém. Só com o trabalho.

- isto não é nada - Ela devia ter reparado na desvanecida nódoa negra perto do olho. Não lhe ia contar o que realmente fora.
- Vou estar fora este tempo todo. a família vem em primeiro. Tu e o Milo são a minha prioridade. 

Fechei os olhos e sorri - É bom saber que o meu Mikko está de volta. O Mikko que me ama incondicionalmente e se preocupa com a sua família está aqui - Murmurei, sem lhe largar a mão - Amo-te tanto, Mikko. Não voltes a fazer-me uma coisa daquelas... - Pedi, com as lágrimas cnos olhos. Mas como estes estavam fechados... - Pensei que tinha perdido o meu grande amor. Mudaste tanto por causa do trabalho... Deixaste de ser o nosso Mikko. Por favor, diz-me que o meu Mikko está de volta.

- Esse Mikko nunca devia ter desaparecido. Lamento tanto, meu amor. Fui um cabrão. Nenhum emprego nem dinheiro do mundo vai alguma vez ser mais importante que a familia - Isso eu prometia. - eu estou de volta e é para ficar.

 - Oh, graças a deus, finalmente... - Murmurei, tossindo um pouco. Assim que me acalmei respirei fundo e olhei-o - Amo-te tanto, Mikko. Nunca te esqueças disso. Por favor, não voltes a fazer nada de semelhante a isto... Eu não aguento, só de pensar nisso... Não sei viver sem ti, Mikko. Eu preciso de ti. Eu precisei tanto de ti, e tu simplesmente... Era como se não estivesses lá - Eu acabei por começar a chorar. Sempre que desabafava com a dona Grace acabava por chorar.

- Descansa - Não devia estar a deixá-la falar tanto. - Shhh não vou voltar a ser um idiota. Eu amo-te, Felice. Eu amo-te.  - Inclinei-me e beijei-a ao de leve - Agora descansa. Vou ver o Milo e deixar os teus pais entrar, sim? Depois volto. Não vou a lado nenhum.

- Eu também te amo muito, Mikko Sullivan. Nunca te esqueças disso, meu amor - Assenti à medida que ele falava e esbocei um pequeno sorriso - Dá-lhe um beijinho por mim, por favor. E que a mamã gosta muito dele - E, sorridente, fechei um pouco os olhos enquanto ele não saía e os meus pais não chegavam. Assim que o fizeram eu falei um pouco com eles, mas cerca de vinte minutos depois tiveram de sair porque eu acabei mesmo por adormecer.

- Eu digo - Despedi-me e saí do carro. Fui visitar Milo que estava entretido com a minha mãe. Ficou logo todo entusiasmado. Ele estava com uma muito melhor cor, quase recuperado.

A semana passou-se assim. Ora estava com Felice, ora estava com Milo. No fim da semana o pequeno teve alta, pelo que tive que ir para casa com ele mas ia sempre ao hospital ter com Felice. Foi numa manhã de domingo que, após uma longa conversa com o médico, o convenci a deixar Milo fazer uma curta visita ao quarto da mãe.

É domingo, e eu estou para lá de aborrecida. Para alguém que odeia hospitais, estar numa cada cama de um hospital, com fios e mais fiozinhos agarrados a mim... Sozinha num quarto, a olhar para as paredes... Ah, que chatice. Sei que é para o meu bem, e que se estiver a cinquenta por cento talvez esteja a exagerar, mas... Enfim, quero os meus meninos.
Estava sozinha, a acariciar a minha barriguinha, quando ouvi a porta a abrir. Opá, de repente parecia natal, e num ápice eu estava sentada e com as lágrimas nos olhos - Oh amor... Oh, amorzinho! - Afirmei, referindo-me primeiro a Mikko, e depois ao nosso menino - Oh filho... A mãe tinha tantas saudades tuas! - Sorri-lhe e limpei as lágrimas. Por momentos, quase que parecia uma torneira.

Tive que impedir o rapazinho de ano e meio de correr feito louco até à mãe. Peguei nele e acalmei o seu entusiasmo, sentando-o depois na cama mas sem que fizesse pressão sobre Felice.
- Mamã! Mamã! - Milo estava tão feliz.

Peguei no Milo e abracei-o com carinho - Oh, meu menino... - Murmurei, forçando-me para não voltar a chorar. Olhei Mikko enquanto abraçava o nosso filho e agradeci-lhe baixinho. Dei beijinhos nas bochechas de Milo e sorri-lhe - Como tens estado, filho? - Desviei o meu olhar para Mikko - Contaste-lhe?

Era tão bom vê-los novamente juntos. 
Abanei a cabeça - Não, achei que era melhor fazê-lo quando estivesse contigo. 

Olhei para Milo novamente e acariciei-lhe a bochecha. Como é que se conta a um filho de um ano e meio que vai ter um irmão ou uma irmã? É que há sempre a possibilidade de não reagir bem à notícia. Respirei fundo e sorri-lhe docemente - Nós, a mãe e o pai, temos uma coisa para te contar... A mãe está grávida, o que significa que a mãe e o pai vão ter mais um filho... Ou seja - Ri baixinho por estar atrapalhada - Vais ter um mano, ou uma mana! - Olhei para Mikko, sorrindo, mas mais como se lhe estivesse a pedir ajuda.

Milo com o seu ano e meio podia ou não entender muito bem o que lhe estávamos a contar - Ou seja, vais ter uma irmãozinho ou uma irmãzinha para brincar. Não é fantástico? - Tivesse entendido ou não, Milo começou a bater palmas alegremente.
- Acho que ele não se importa.

Comecei a rir face à sua reacção, e depois dei-lhe mais um beijinho - Ainda bem que estás feliz, meu querido - Respirei fundo e olhei para Mikko - Amor, tenho uma ecografia amanhã... Vens, não vens? - Aquilo não era apenas uma pergunta, era muito mais que isso. Estava quase a implorar-lhe que não faltasse.

Hue, já escrevi quase uma folha inteira do próximo capítulo ~~

- Claro que sim! Não ia perder isso por nada - Eu apenas espera que esta sua gravidez fosse menos atribulada que a de Milo e ia querer estar sempre com ela e apoiá-la, redimindo-me dos meses passados em que fora uma besta.

yeaaaahhh me happy

Sorri a Mikko como resposta e peguei na sua mão, colocando-a sobre a minha pequena barriga. Não desviei o meu olhar do seu, até que Milo colocou a sua mãozinha em cima da mão do pai. Dei-lhe um beijinho e suspirei - Ah, é verdade amor... Vai haver algum evento na tua família? Algum casamento, batizado, ou evento formal qualquer? É que a tua mãe ontem quando me veio visitar estava toda cheia de pressa mas até falava as coisas pela metade e entre os dentes... E eu também estava com sono por causa da medicação e não apanhei nada - Ri baixinho.

Sorri quando pousei a mao na sua barriga que já não era tão lisa assim.
Ouvi-a mas a verdade é que não sabia muito sobre o assunto. Apesar de ter passado tempo com a minha mãe nos meus últimos dias tinha andado tão absorto que não dera por nada - Não sei amor, não tenho falado muito com ela sobre essas coisas - Mas eis que então entra a minha mãe pelo quarto - Mas podes perguntar-lhe a ela.- Ri-me

Ri baixinho e sorri à mãe dele - Dona Grace! Como está? - Perguntei num tom doce e de forma educada, encostando-me à almofada - A que evento vai para estar tão atarefada e tão bem arranjada? - Mantive o sorriso e agarrei a mão de Mikko com força ao sentir uma tontura.

A minha mãe estava mesmo entusiasmada. Via-se pela sua cara e quando começou a falar, disse tudo num tom animado - Então, é a Gala Anual dos Sullivan. É preparada por mim se bem que seja o James a ter os louros. É uma jantar de beneficiência onde vai toda a gente do circulo social. Toda a gente, Felice! É a altura perfeita para te apresentar a todos os amigos desta familia.
Já me tinha esquecido daquela coisa a que eu nunca ia. Porquê que a minha mãe achava que este ano seria diferente.
- Mãe, a Felice precisa de descansar e não ir a festas aborrecidas como essas.
Ela lançou-me um olhar critico - Aborrecido és tu, Mikko Sullivan, que nunca lá meteste os pés, mesmo quando te implorava que fosse. - Virou-se para Felice  - Falei com o médico e ele disse-me que te vai dar alta na próxima semana se tudo correr bem. A Gala será nesse sábado. Seria óptimo para relaxares deste ambiente hospitalar. Se tu fores, tenho a certeza que o Mikko também vai e finalmente teremos toda a familia Sullivan reunida!

A discreta discussão entre mão e filho quase que me fez começar a rir, mas fiz os máximos para não me desmanchar ali. Ouvi tudo o que ela disse com a maior das atenções e fui assentindo - Oh, isso parece-me ser algo extraordinário. Se eu tiver então alta na semana que vem, eu irei à Gala com todo o gosto, dona Grace. É o mínimo que posso fazer por tudo o que tem feito por mim, por nós - Sorri docemente a Mikko, que não parecia muito contente com a minha decisão. Acariciei-lhe a mão - O Mikko nunca foi porque tinha sempre medo de começar a amar esse evento, dona Grace - Ela começou logo a rir, toda contente e abanou a cabeça.
- Ele não ia porque não tinha ninguém à altura dele para o acompanhar! Agora tem aqui uma mulher lindíssima ao lado dele e ele vai com certeza! - O comentário dela fez-me corar, e eu fiquei calada por uns segundos por não saber o que dizer.
- Oh... Obrigada, dona Grace. Mas vou precisar que me faça um favor... Quer dizer, eu não devia de lhe pedir isto porque está demasiado atarefada e eu nem sei se os meus pais vão embora este fim-de-semana ou não... Mas eu vou precisar que alguém compre alguma roupa mais formal para o Milo. Só para ele... Para mim eu depois desenrasco-me, compro quando sair do hospital e me sentir apta para uma tarde no shopping - Sorri-lhe. Não tenho muitos vestidos que se adaptem ao corpo ou que sejam largos, e eu não vou arriscar usar algo apertado.

Eu perante aquelas duas juntas não tinha qualquer poder! Nem palavra!
- Vocês as duas juntas são o pesadelo de qualquer homem - Suspirei. Pelos vistos ia à estúpida gala.  - Vou estar de olho em ti, Felly. Não podes fazer esforços. Não sei que maluquices a minha mãe preparara nas Galas.

Por momentos tive pena de Mikko, mas mantive a minha palavra. Vamos a Gala Anual e acabou. Grace acabou por dizer que tinha de se ir embora e ainda perguntou se podia levar Milo com ela, e assim não só passava o resto do dia com o neto, como lhe comprava o que ele precisava. Acabámos por dar permissão. Abracei o menino e dei-lhe alguns beijinhos antes de o deixar ir para o chão para ir embora com a avó - Porta-te bem com a avó! - Avisei, atirando-lhe beijinhos. Quando já estávamos a sós, olhei para Mikko.
- Amor, é só um jantar e assim... É o mínimo que eu posso fazer pela tua mãe. Prometo que não vou deixar que te aborreças, está bem? - Sorri-lhe e tentei esticar-me para o beijar.

- Se cumprires essa promessa, está bem - Respondi, já com um sorriso. Fiquei ali mais algum tempo com ela, mas entretanto vieram os médicos fazer-lhe um check-up e mandaram-me sair.

- Eu cumpro o que prometo - Pisquei-lhe o olho, e depois lá veio aquela gente toda só para me ficarem a observarem-me.

A semana acabou por passar depressa, e o médico acabou por me dar alta um dia antes. Como Mikko não estava por ali e ninguém o tinha avisado, decidi ligar-lhe eu a dar-lhe a boa notícia. - Olá, amor. Sim, estamos bem. É só para te avisar que deram-me alta, e... Pronto, podes vir-me buscar? Até já, amo-te - Desliguei a chamada e fiquei na entrada do hospital, esperando que ele chegasse.