Quarto da Felice - F&M

- Eu não vou conseguir esconder a barriga para sempre.. Não me convém também que a minha família saiba.. Tenho imenso medo que o meu pai descubra que estou grávida - Suspirei pesadamente e mordi o lábio. Se ele descobre, estou completamente tramada

O me tio provavelmente ia conseguir sabê-lo, mais cedo ou mais tarde. Olhei para ela. Era tão estranho pensar naquela com uma barriga saliente. Era também assustador. - Estamos lixados. - se a minha mãe viesse a saber disto... meu deus.

- Basicamente é isso.. - Sussurrei, voltando a morder o lábio. Pensar no futuro que não estava assim tão longínquo quanto isso era profundamente assustador. Voltei a estremecer só de me tentar imaginar com uma barriga grande. Suspirei e dei uns passos atrás, acabando por me sentar depois com cuidado na cama.

Virei costas, começando a encarar a parede. Não estava conformado com esta situação. Queria voltar a ser Mikko, o player. Nada de preocupações nem problemas.

Respirei fundo e passei a mão pela testa. Sou demasiado nova para isto... Para tantas preocupações e responsabilidades. Estremeci ao sentir o telemóvel tremer no bolso das minhas calças. Retirei-o e olhei o monitor para ver quem era, e fiquei literalmente boquiaberta e de olhos arregalados a olhar para aquele pequeno nome de apenas três letras. Oh não...

Quando me voltei para ela, fiquei um pouco confuso com a sua expressão - O que foi? - perguntei.

Peguei melhor no telemóvel e virei-o para ele, mostrando-lhe - É o meu pai - Afirmei num tom meio trémulo e assustado. Oh foda-se, estou lixada.

O seu pai não podia saber já, pois não? - É melhor atenderes - disse. Sentei-me na cama ao lado dela.

Respirei fundo e mordi o lábio. Espero que ele não sabia, pois se souber, estou mais frita que um bife frito queimado! Ajeitei a voz e atendi, colocando o telemóvel na orelha do lado onde Mikko estava para ele ouvir a conversa. Não lhe escondo nada, por isso pode ouvir - Estou? Olá pai.. - Afirmei, tentando parecer o mais normal e feliz possível.
- Olá minha querida Felice. Como estás? Persephone contou-me que estás em Las Vegas e saíste à umas horas do hospital. Antes de mais nada, estás aí com a autorização de quem? - A quem? O seu tom de voz foi do "fofo" ao austero em poucos segundos. Mordi o lábio e olhei Mikko pelo canto do olho.
- Quem é a Persephone? Eu pedi autorização ao director para vir cá passar uma semana com Mikko, o meu marido. - Expliquei rapidamente, esperando por resposta.
- É uma enfermeira que trabalha nesse hospital. Conheço-a perfeitamente. Ela disse-me que tinhas um tumor e que estás grávida. É verdade, Felice? - Arregalei os olhos e tapei a boca com a mão livre. Agora sim, estamos completamente fodidos.Senti as lágrimas a inundarem-me os olhos. Nem sei o que fazer. - Felice? Filha, estás aí? - Insistia, num tom mais preocupado. E ali estava eu, mais imóvel que uma estátua.

A história do "ocultamos a gravidez o tempo que conseguirmos" tinha ido por água a baixo. A minha mão foi parar à sua perna para a confortar. Fiz sinal para ela continuar a conversa.

Olhei para Mikko quando senti a sua mão acariciar-me a perna. eu olhava-o como se lhe estivesse a pedir desculpa mentalmente. Limpei as lágrimas que entretanto caíram e respirei fundo, recuperando o fôlego. Depois de apanhar coragem continuei a conversa, falando num tom de voz trémulo e assustado. Não sei se assustado ou se horrorizado - Estou aqui pai.. Sim, é verdade.. Eu tinha um tumor, que rebentou... Ia correndo mal mas estou bem. E estou grávida, sim...
- Meu deus... Afinal sempre é verdade. A enfermeira contou-me que estiveste quase a morrer. Isso era exagero, ou...? - Perguntou um pouco receoso.
- É verdade, pai - Confirmei, mordendo o lábio.
- A tua mãe está aqui toda aflita e a chorar. Era para te ter ligado mais cedo, mas não te queria incomodar e pensei que fosses descansar. Olha, eu vou passar à tua mãe, está bem? Senão ela não descansa..
- Está bem pai, beijinho - Disse apenas, ouvindo depois a minha mãe a pegar no telemóvel. Notava-se que estava a chorar
- Oh filha, então? Como estás? O bebé está bem? De quantas semanas estás grávida? - E pronto, esta é a minha mãe, sempre preocupada.
- Estou com algumas dores mãe, não muitas. O bebé está bem e eu estou grávida de sete ou oito semanas.
- Ah, que bom! O bebé é do teu marido do colégio? Ele é jeitoso? Vou ter um neto lindo! Ai estou tão feliz, vou ser avó! - Perguntou muito baixinho, certamente para o meu pai não ouvir. Eu ri com aquela pergunta.
- Sim mãe, é muito jeitoso.. - Abanei a cabeça e parei quando ouvi o resto. Neto? Avó? Não, não! - Mas mãe, eu... - Oh meu deus, como é que eu vou dizer aos meus pais que vou dar o bebé para a adopção? A minha mãe vai ficar destroçada - ... Não quero que te preocupes, está bem? Está tudo bem. Olha, vou ter de ir... Vou comer alguma coisa mãe. Beijinhos, adoro-te muito - E depois de desligar, lá estava eu a chorar outra vez. Pousei o telemóvel na cama e tapei a cara com as mãos.

Já não ouvira muito bem a segunda parte da conversa. Quando estava acabou, Felice estava novamente num pranto. Abracei-a contra o meu corpo e confortei-a.

- Como é que eu vou dizer à minha mãe que vou dar o bebé para a adopção? Ela vai ficar tão decepcionada.. - Murmurei entre o choro, soluçando. Abracei-o com força, e assim fiquei.

Se a minha mãe soubesse, seria o mesmo. Pelo menos da minha mãe eu tinha mesmo de manter esta gravidez em segredo. - Não sei Felly... É a tua vontade, ela percebe.

Quebrei o abraço para limpar as lágrimas. Respirei fundo e voltei a limpar as que entretanto caíram. Oh, isto é uma porcaria. Tentei levantar-me mas senti uma dor aguda e desisti disso num instante

- Tens de descansar. Não quero ver-te no hospital novamente - disse. Odiava que ela sentisse dores.

- Eu descansei lá em baixo amor. Estou bem, foi só uma dor.. - garanti-lhe, falando sincera. Talvez fosse melhor esperar uns minutos antes de tentar levantar-me outra vez. Acho que neste momento não tenho medo de perder o bebé. Tenho é medo de perder a minha própria vida

- A médica disse que ias precisar de repouso - e tantas outras coisas também. - eu fico aqui contigo - estava visto que não ia aproveitar nada de Vegas enquanto cá estivéssemos.

- Devíamos de estar a curtir Las Vegas, a beber até cair.. E aqui estou eu, numa cama, basicamente a prender-te e a impedir-te de te ires divertir.. - Murmurei colocando as pernas em cima da cama. Estava chateada comigo mesma

- Estas coisas acontecem - eram uma merda mas aconteciam. - Também não me divertiria sem ti. - disse.

- Oh.. É por estas e por outras coisas que eu te amo.. - Disse baixinho, um pouco corada - Sempre podemos namorar um bocadinho..

Engraçado. Pela primeira vez desde que estávamos juntos, eu não pensava em sexo. Só queria mimá-la com beijos. - Pois é... - beijei os seus lábios suavemente.

Sorri contra os mesmos, e cheguei-me mais perto dele. Voltei a beijá-lo calma e intensamente, enquanto ficava bem juntinha a ele

Abracei o seu corpo para o manter junto do meu. Estávamos simplesmente a namorar um bocadinho, o que fizera falta nos últimos dias.

Sabia tão bem estar assim com ele. Já tinha saudades destes nossos momentos. É disto que eu preciso agora, não de pensar no depois. Abracei-o com carinho e continuei a beijá-lo doce e intensamente.