Blue Note {Jazz Club}

Achei tão estranho a sua reação que nem sabia o que responder. Se devia meter-me com ele ou simplesmente ignorar. Fiz uma careta, para que ele compreendesse a minha posição, e acabei por mudar de assunto - Que tal a cerveja? - apontei-lhe para a bebida na mão.

Pois, ora era timido ora era flirting e em qualquer dos casos corria tudo mal. Estava visto, eu não tinha jeitinho nenhum para aquilo. Ia ser virgem para sempre. mais valia despedir-me de Kim e ir rastejar derrotado para ao pé de Melanie... - Hum, é boa.. pelo menos é melhor do que isso - apontei para a bebida e ri-me.

Olhei para a minha bebida, já quase no fim - Nisso não posso concordar - neguei - Mas se fosse inexperiente como tu, já estaria do teu lado - brinquei e pisquei-lhe o olho. Talvez a palavra inexperiente tivesse feito a frase soar um bocadinho mal, mas ele ia compreender, certo?

Fiz um meio sorriso. Que eu eu era um inexperiente, lá isso era. Será que lhe estava a dar muita seca? Não queria aborrecê-la. Fiquei por momentos calado, muito awkward - Ouve, estou a dar-te muita seca? É que... tu és linda e divertida, há aqui um monte de gajos melhores do que eu... Não levo a mal se quiseres... bom, posso-me ir embora.

Ohh, tão querido. Aquele rapaz era tão estranho, que chegava a ser adorável. Aproximei-me dele e beijei-lhe a bochecha. Peguei-lhe, simultaneamente, na mão, num ato maternal - Podes ficar. Aliás, fica, por favor- pedi.

Desta vez senti-me orgulhoso quando não corei nem fiquei todo estranho quando ela me beijou. Fiz-me homenzinho. Gostei do toque os seus lábios. - Se assim o dizes - Sorri. Por uns segundos virei-me e procurei o olhar de Mel. Pisquei-lhe o olho.

-kim off, mel on-

Assisti à cena, apesar de ser algo aborrecida. Às vezes Zade saia-se com umas boas, e com boas quero dizer horríveis. Não sei como é que ela tinha conseguido aguentar. Mas com a cena final, fiquei boquiaberta. Afinal eu tinha razão, havia quem gostasse deles tímidos e esquisitóides! Apesar de contente, também fiquei, e que isto não saia daqui, com uma ponta daquilo que pode ser chamado de ciúmes. Não, não queria ter nada com Zade. Mas passou-me pela primeira vez na cabeça a ideia que ia ser deixada. Graças a mim, ele ia conhecer gente nova, e não é que isso não fosse bom, mas há anos que não tinha um amigo. E já o considerava um. Pronto, a ideia que ele ia começar a andar com as novas amigas em vez de mim, não fora, por momentos, a mais agradável. Mas rapidamente passou. Retribui-lhe o piscar de olhos.

Tentei não ser timido nem estranho. Uma conversa com Kim prolongou-se durante mais algum tempo, depois ela pediu uns shots e convenceu-me a uma rodada de quatro. O sabor era horrível mas bebi-os na mesma - Queres ir dar uma volta? - Acabei por dizer num acesso de coragem.

back to kim

Para alguém que não estava habituado a beber, não devia faltar muito para as bebidas começarem a fazer efeito. Mas não era isso que eu queria, não principalmente, pelo menos. - Claro - respondi-lhe sorridente e peguei no meu casaco.

Eu e Kim saímos. De qualquer das formas o bar estava a ficar cheio. Eu começava a sentir-me alegre...talvez alegre de mais. Mas não me importei. Estar assim dava-me mais coragem. - Queres ir até onde? Não conheço muito daqui-

Encolhi os ombros, quando chegámos à porta - Preferes sítios com muita gente ou preferes que fiquemos os dois sozinhos? - perguntei, o mais inocente possível. Não queria nada de porco, mas se acontecesse, quem era eu para o negar?

Por norma teria dito espaços com muita gente para não me sentir tão imbecil... Mas por outro lado apreciava mais sitios calmos - Um sitio com pouca gente, temos mais privacidade... isto é, não que precisemos para fazer nada mas... - lá e estava eu a enterrar

Acenei com a cabeça, percebendo que ele estava na mesma onda que eu. Quer dizer, não, não me interpretem mal, nada de virgindade, pelo contrário. Mas eu não ia dar o primeiro passo. Estava bem assim. Se ele desse, não me importava de seguir, é só isso. - Mas, sim - continuei. Dei-lhe a mão, de uma forma mais carinhosa do que aquela que devia, já que só o conhecia no máximo há pouco mais de uma hora, e levei-o para um sítio ali perto, entre o mato e umas ruas antigas da cidade.

Sorri quando ela me deu a mão.  Gotava dela, tinhamos uma sintonia peculiar, pelo menos eu sentia. Acabámos num sitio onde só estavamos nós os dois. Senti o efeito do alcool dar-me coragem para dizer - És muito bonita, Kim. Quero beijar-te. Posso?

Tudo o que se ouviam eram alguns carros à distância, e o vento a bater nas árvores atrás de nós. Já tinha feito muita porcaria ali e sabia que era raro passar alguém. Até eu estava meio alegre, apesar de bastante consciente daquilo que estava a acontecer - Claro que sim - respondi-lhe, à medida que me aproximava dele.