Discoteca

Pela primeira vez na vida, eu perdera as rédeas e soltara-me um bocadinho. Claro que tivera um custo: se me perguntassem o meu nome neste momento, eu não conseguiria dizê-lo. Mas eram pormenores à parte. - Meeeelly - Não sabia porque razão a tratava assim. Já estávamos a sair da discoteca.

Podia estar bêbada, mas não era tanto como Zade, e ainda conseguia gozar com a sua figura. Quando ele me chamou, não percebi se era comigo. Melly não era uma alcunha a que eu estava acostumada - Simmmmmmmmmm? - perguntei, com a mesma entoação.

- Para onde vamos agora? Quero divertir-me - repliquei, ainda com um copo na mão meio cheio. Tinha sido o último a ser-me servido e tencionava aproveitá-lo até ao fim.

Fiz uma cara pensativa, apesar de já saber a resposta - Que tal para o quarto? - respondi-lhe, sabendo que ele ia ficar desiludido. - é de madrugada, está tudo a fechar! - e apontei para o primeiro raio de sol que estava a nascer no horizonte.

- Para o quarto? Naaa - Que raios ia eu fazer para o quarto? Divertir-me é que não era de certeza absoluta. - Whatever, eu vou atrás de ti - disse com um sorriso tolo e embriagado na face.

Ele estava tão bêbado e tão estúpido que a ideia de pô-lo assim mais vezes era interessante. - Eu sei, eu sei - ironizei e continuei a caminhar aos zig-zag. - Quantos anos tens mesmo? - tinha de saber quantos anos de diversão tinha ele perdido exactamente.

- Dezoooooito - respondi, rindo-me estupidamente - Ou oito. Já nem sei - continuei a seguir atrás dela. Não sabia onde estávamos mas, ao contrário dessa tarde, não estava minimamente preocupado com isso.

Parei e olhei em volta, tentando lembrar-me do caminho de volta ao colégio. Antes de o encontrar, encontrei um caminho melhor - Não queres ir para o colégio, não é? - verifiquei e olhei de novo para uma rua estreita que ia dar à praia, onde já se via o sol a nascer.

Abanei a cabeça negativamente e encolhi os ombros também. Reparei que a minha bebida acabara - Oh merda - resmunguei. Queria mais. Continuei a seguir atrás de Melanie.

Caminhei com ele até à praia, procurando algum estabelecimento aberto para comprar uma bebida. Não o encontrei, mas passou por mim um grupo de adolescentes também bêbados. - Perfeito. - disse baixinho, para mim própria, e ajeitei o decote para que ele ficasse mais aberto. Não foi difícil que eles me arranjassem uma garrafa ainda por abrir de vodka pura. Depois, andei mais uns passos e sentei-me num banco à espera de Zade, que vinha mais atrás.

Caramba, pense para mim mesmo enquanto observava Melanie. Ela era um pro naquelas coisas. Sorri satisfeito quando vi que ela tinha uma garrafa. Sentei-me ao lado dela e, sem querer (ou talvez quisesse um pouco) olhei para o sue decote. Wow.
- Foi fácil, hun?

Subi de novo o decote quando reparei no seu olhar nada discreto para lá. O alcool realmente fazia muita diferença. - Muitos anos de prática - comentei e abri a garrafa. - Agora, admite que não foi bom teres sido "casado" comigo! - mandei e fiz-lhe um olhar de quem manda, sentando-me de pernas à chinês na cadeira, virada para ele.

Eu estava a comportar-me de uma maneira que nunca fizera na vida. E tudo isso começara assim que bebi o primeiro copo de álcool - Não sei. Estou com um pressentimento que estou a amar ser casado contigo hoje mas que vou odiar a ideia amanhã de manhã, quando acordar.

-Podemos sempre mudar isso mais tarde. - interrompi, imaginando mais uma vez a cena de o pôr bêbado todas as noites - De qualquer das formas, pensa no "agora" - acrescentei num tom lamechas, propositadamente.

- O que queres dizer com isso? - inquiri olhando-a com uma expressão idiota - Se o agora é estar semi-consciente em frente a uma rapariga toda boa como tu, então não sei muito bem que pensar - definitivamente, este era o meu lado não consciente a falar.

Parecia estúpida (talvez o fosse, um pouco, apenas um pouco) mas compreendera zero do que ele tinha dito. - What? - perguntei, confusa. Até podia ter-me distraído com algum rapazote, mas a rua estava às moscas e já nem sinal do outro grupo de adolescentes havia. Revirei os olhos - Oh, nevermind - suspirei e bebi um gole de vodka. Depois, passei-lhe a garrafa - Não acabes com isso. Não queiras experimentar entrar em coma logo na tua primeira bebedeira.

- Hum, whatever .... - Dei pelo menos uns três goles na garrafa de vodka. Só parei porque me deu uma tontura e por momentos tudo ficou preto à minha volta. Os meus sentidos regressaram segundos depois.

Fiquei a observá-lo a beber. Era meio esquisito. Quando percebi que ele estava a sentir-se mal, ri-me, mesmo não tendo piada e eu ter ficado preocupada. Tirei-lhe a garrafa da mão - Anda, vamos para o colégio. Deixa a parte má deste tipo de experiências para outra noite.

Grunhi quando ela afastou a garrafa de vodka da minha mão. Queria mais. - Chata - resmunguei. Tentei levantar-me mas só o consegui à segunda tentativa.

Desta vez, tive mais cuidado com ele do que à vinda. Apesar de andar aos zig-zag, consegui ajudá-lo a caminhar ao quarteirão. Olhei em redor, tentando descobrir o caminho. - Tens o gps? - acabei por desistir e pedir-lhe.

Eu agora não conseguia andar direito. Caramba, até manter os meus pés afastados um do outro era difícil. Passei-lhe o meu telemovel com o gps ligado - diverte-te, Mely.

Inspirei fundo e senti o cheiro a alcool dele. Pensando assim, era péssimo. Dava-me vómitos pensar em beber mais naquele momento. Guardei a garrafa no fundo da minha mala e peguei no telemóvel dele, tentando mexer-me. Ao fim de um pouco, lá consegui - Estás bem? - perguntei, antes de o pôr a andar de novo.

- Estou óptimo - respondi ironicamente enquanto tentava conseguir andar decentemente. - Sinto-me no paraíso.

Revirei os olhos e contei até 3. Se bem conhecia rapazes bêbados, era preciso muita paciência. Devia ter pensado nisso mais cedo. Mudei a minha voz para um tom doce - Ainda bem zady. - disse cinicamente e virei à esquerda.

Encolhi os ombros e continuei na minha onda. - Zady e Mely. Soa tão mal querida - tentei andar sem ter de a ter a guiar-me mas não consegui.