Sala de Estar 2

Depois da nova intervenção de Felice, a minha mãe prontificou-se logo a tratar de tudo - Tu descansa, minha querida. Eu trato de tudo, não te preocupes - Notava-se que ela estava algo nervosa. Eu ainda não estava de bons termos com ela. - Se calhar deviamos ir embora e deixar-vos para que descansem. Foi um longo dia - Disse, olhando para todos nós mas fazendo sinal ao Monroe. Levantaram-se dos dois - Adeus filho - Disse, mas eu não respondi de volta. - Adeus Felice, cuida bem dos meus netinhos - aconselhou com um sorriso maternal.
Monroe estendeu-me a mão e eu apertei-a - Até manhã - Disse, sem saber o que esperar.
Eles saíram de nossa casa, deixando-nos a sós. Aninhei-me a Felice no sofá - Que dia.

- Eu cuido sempre muito bem dos meus filhinhos... - Sorri docemente e depois de me despedir deles, fiquei no sofá a fazer carícias à minha barriga, olhando para Milo que ainda estava distraído com os seus brinquedos. Desviei o meu olhar para o meu namorado quando este falou e suspirei. - Desculpa não ter aparecido lá como te disse, amor... - Voltei a lamentar, segurando de novo na sua mão. - Não sei o que deu ao Milo hoje. Esteve tão rabugento, mal me deixava fazer o que quer que fosse. Tive de passar o dia inteiro com ele ao colo... E se tratar da casa por si só já começa a ser difícil para mim, com ele sempre ao colo... - Suspirei, fazendo uma careta quando tive uma pequena dor no fundo do ventre. - Devia ter parado... Eu só queria deixar tudo impecável como faço sempre. - Suspirei meio frustrada e mordi o lábio.

Olhei-a meio aparvalhado. Ela ainda se culpava e lamentava? Credo, A minha Felice era uma alma demasiado bondosa e ingénua às vezes. Abanei a cabeça, parando-a logo ali - Eu compreendo, mas não tens de ser a dama de casa perfeita - Comecei por garantir. Agarrei as suas mãos e acariciei-as - Puseste-te em risco. Sabes que precisas de descansar, pela tua saúda e pela do bebe. Esse é o teu dever acima de qualquer coisa que penses que me vai deixar contente, sim? Cuidar de ti  e dos nossos filhos deveria ser a tua única preocupação, eu é que sou egoísta e não partilho essas tarefas passando o dia fora a trabalhar - A culpa era minha. Eu dissera que ia mudar - Vamos contratar uma empregada, alguém que te possa ajudar tanto com a casa como com o Milo. Assim podes focar-te em ti e na gravidez, sim?

A careta que rapidamente fiz foi algo que não fui capaz de esconder, foi demasiado automático. Não gosto da ideia de ter uma empregada cá em casa. Mesmo que seja para supostamente me ajudar com as tarefas domésticas e com o Milo e no que eu precisar, essa ideia não me agrada de todo. E depois, vejo demasiadas séries e filmes em que as empregadas se metem com quem não devem. Então com esse pensamento é que a minha careta ficou ainda mais feia. - Uma empregada...? - Foi tudo o que eu consegui dizer, mesmo já tendo passado algum tempo. Aligeirei a minha expressão e respirei fundo.
- Eu posso abrandar o ritmo e ir fazendo as coisas só quando achar que estou apta para tal amor, não é necessário uma empregada... - Abanei a cabeça para que desse mais ênfase à minha vontade de não ter uma empregada cá em casa. - Eu cuido de nós amor, nós estamos bem. Eu e o bebé estamos bem e o Milo também. Só estou um pouco cansada, não é nada de grave amor, juro. E tu não és egoísta coisa nenhuma, só estás a fazer o teu trabalho amor. - Sorri-lhe docemente e coloquei a sua mão no meu rosto, fechando os olhos ao sentir o seu toque carinhoso.

Ela tentava sempre convencer-me, mas onde é que isso me levava? Enganava-me sempre, cometia erros. Não queria fazer mais - Eu conheço-te, Felice. Tu nunca abrandas, és incapaz. Gostas sempre de fazer tudo por ti própria. Acredita, amor, eu gosto dessa tua qualidade, mas tu tens de dar descanso a ti própria - Sublinhei a minha preocupação. - Uma empregada também te faria companhia enquanto não estou. Não me sinto bem em saber que passas os dias em casa só com o Milo. E se te acontece alguma coisa?

- E eu dou descanso a mim própria, amor... - Suspirei, meio frustrada, e lá acabei por encará-lo de novo e dizer o que era verdade. - Eu não gosto de ter estranhos a mexer nas nossas coisas. Mesmo que prometam e jurem a pés juntos que é só com o intuito de limpar e ajudar-me com o que quer que seja. E depois... - Não lhe digas, Felice. - Não quero ter empregadas. Se as vejo a fazerem-se a ti ou vou acabar por mandá-las para o hospital ou para o cemitério. - Bufei, e desviei o olhar. Já sei que ele se está a rir de mim, nem preciso de olhar para ele. Sou mulher e sou super ciumenta, o que é que querem que eu faça?

Depois de ouvir a sua explicação fiquei a rir-me. Algo me indicava que ela não queria veemente uma empregado em nossa casa mais pelo facto de alguém se puder fazer a mim do que propriamente por todas as outras razões - Está bem. Se não queres assim tanto uma empregada, ao menos promete-me que vais diminuir o ritmo - Disse, já recomposto e num tom preocupado. - E que se alguma vez estiveres a sentir-te desconfortável ou com dores me ligas imediatamente, ou falas com a alguém. Promete-me.

- Não te rias de mim, Mikko Sullivan! Não queiras despertar a fúria de Felice Scorpius. - Fiz beicinho, ainda que na brincadeira e cruzei os braços ao peito. Não queria realmente uma empregada na nossa casa, e tinha muitos motivos e razões para continuar a debater sobre aquele assunto se fosse preciso. Mas é claro que os motivos relacionados com Mikko e Milo eram mais fortes. Podia haver alguma maluca que me quisesse tirar o menino! Nunca se sabe!
- Oh, graças a deus! - Acabei por suspirar, de alívio quando me fez a vontade. - Eu prometo, amor. É como eu digo... Eu trato sempre de todos nós. Hoje só foi pior porque o nosso menino deu para a rabugice e porque eu tinha muito que fazer. Mas para a próxima, não o farei. Prometo, amor. E podes ficar descansada que eu ligo-te! - Sorri-lhe docemente e coloquei-me noutra posição, esticando-me para chegar aos seus lábios e beijá-lo docemente. - E o trabalho, correu bem?

Felice sabia sempre como me dar a volta. A ideia da empregada não estava de todo arrumada, logo veria como corriam as coisas. Se visse que ela ficava mais cansada do que o normal, então dessa vez não cederia e contrataria uma empregada. - Espero bem que cumpras a promessa.
Encolhi os ombros - Foi o mesmo de sempre. É estranho entender agora o porquê de o colégio se chamar Monroe. Ainda não me mentalizei - Suspirei - Amanhã almoçamos com ele. Não sei o que esperar. Será que até sou parecido ao Monroe? Ou não temos nada a haver...

Mantive os braços ao peito e olhei-o seriamente. - Alguma vez te falhei com alguma promessa, amor? - Fiz-lhe beicinho e depois suspirei. Eu sentia-me meio entre a espada e a parede naquele instante. O homem que queria agora conhecer melhor o seu filho mais novo era também o pai do idiota do meu ex-noivo. Mas eu sei bem que o Mikko tem o direito de conhecer o seu pai, e fico muito feliz por ele. - Como te sentes, amor? Quer dizer... Sempre quiseste ter um pai por perto, e agora aqui está ele. Estás contente? Quer dizer, sei que deve ser muito estranho, mas... - Sorri-lhe, enquanto passava a mão pelos seus cabelos e os ajeitava.

Não sabia o que responder a Felice. Estava dividido. Por um lado alegrava-me a ideia de ter um pai. Era um desejo de criança que eu pensava ter esquecido, mas pelos vistos não era bem assim. Por outro lado, estava ressentido pelo facto de só agora o Monroe se ter revelado. Tinha passado toda a minha vida sem um pai, quando poderia ter sido completamente diferente.
- É estranho, sim - Comecei por dizer - Mas acho que é bom. Antes tarde do que nunca. Estou disposto a dar uma oportunidade ao Monroe, ver se ele se redime dos 22 anos que perdeu da minha vida. E tu, o que achas?

Não queria falar do pai de Mikko (e Mickael), para ser muito sincera. Aquele homem traz-me várias recordações do passado e não existe nem uma que seja boa. Respirei fundo antes de lhe responder e a seguir encarei-o. - Olha amor... Para te ser sincera sinto-me dividida, sinto-me entre a espada e a parede. Por um lado, eu estou muito contente por ti. Estou orgulhosa de como tens reagido com tudo isto e de lhe dares uma oportunidade... Nunca é tarde para conhecer um pai. - Suspirei, mordiscando o lábio. - Mas por outro lado, ele é o pai do Mickael... Ele sabia a besta que o filho era e mesmo depois de eu ter feito queixa e de ter confessado o que o Mickael me fez, os meus pais não ligaram nenhuma e ele agiu como se nada fosse e disse que não mudava nada e que o noivado iria continuar. - Respirei fundo e desviei o olhar, olhando para Milo que já estava a perder as energias de tanto brincar. - Se calhar até lhe devia agradecer. Foi por isso que acabei por ir parar ao College. - Ri baixinho.

- Não posso ficar aqui amor... - Comecei por dizer, mas antes que ele tivesse tempo para uma careta que fosse eu prossegui. - O menino está ali quase a dormir, tenho de ir tratar dele e deitá-lo amor... - Mordisquei o lábio e puxei-o mais para mim, sem sair do sítio onde estava no sofá. Olhei para cim para o encarar e sorri-lhe ao contemplá-lo. - Tenho tanto orgulho em ti, amor. - Dei-lhe um beijinho na mão e acariciei-a.

Eu é que tinha orgulho nela. Ainda me surpreendia na sorte que tinha ao ter uma rapariga como Felly do meu lado. Não a merecia. De todo. - Eu levo o Milo para o quarto dele, é melhor. - Não queria que ela fizesse esforços e o nosso pequeno estava a crescer, já não era exactamente um bebezinho leve. - Se quiseres junta-te a mim na cozinha. Mas eu é que faço tudo, sim? - Ri-me e afastei-me, indo buscar Milo e desaparecendo nas escadas.

Acabei por me levantar aos poucos, com a ajuda dele enquanto me falava e fui-lhe assentindo para lhe mostrar qur estava a ouvir o que ia dizendo. - Sim, paizinho. Prometo qur não vou fazer nada, vou ficar sentadinha a olhar para ti e provar a comida quando me pedires para o fazer. - Ri baixinho e roubei-lhe um pequeno beijo, indo com ele até Milo. Esperei que Mikko o pegasse ao colo para não ter de me abaixar. Dei-lhr um beijinho (ou até mais) de boa noite e deixei-os ir para o andar de cima. Fui andando, sozinha e com calma, para a cozinha e foi lá que me aproximei da cozinha e olhei para uma moldura que estava presa à parede. Aquela era uma foto de nós os três, no dia em que Milo nasceu. Sorri docemente e acariciei a barriga, esperando por Mikko. O que é que será que ele vai fazer para o jantar?