Centro Comercial

Quando olhei finalmente para trás é que percebi que ele não estava lá. Não me teria seguido? Estúpido de merda. Ah, afinal não. Estava só na fila para o KFC. Fiz-lhe sinal que me ia sentar numa mesa à espera dele e fui. Como eu não percebia este colégio! O objetivo era perceber a vida de marido e mulher, mas nunca me casaria com alguém como Zade. Ainda por cima que gosta do KFC... com frango frito em que ainda se vê o óleo a escorrer para o prato que nos dão. Ew, não. Ficava-me pelas saladas. Aliás, se não fossem algumas carnes, eu até daria uma boa vegetariana!

O meu estômago grunhia de felicidade ao perceber que finalmente ia ter festa. Fiz o meu pedido cheio de coisas boas. Depois de pago peguei no tabuleiro e dirigi-me à mesa onde ela estava - Queres? - Perguntei, tirando um pedaço de frango.

Fiz uma careta de vómito. - Não, obrigada - recusei simpaticamente e levantei-me sem lhe dizer nada. Fui buscar uma enorme salada. Tomate, alface, cenoura, couve-flor, abóbora, courgette, pepino, cebola, milho, por aí adiante. Algo que não era nada o género de Zade, suspeitava eu. Apesar de também de gostar de certas porcarias como hamburgueres do mc, sandes do pans ou massas do não sei das quantas, e apesar de não parecer, preferia verduras. Enfim. Coisas não importantes. Sentei-me à frente dele com o tabuleiro, olhando-o atentamente à espera da reação.

- Tu é que perdes - Eu adorava a comida do KFC. E nunca tinha de esperar nas filas, toda a gente ia para o McDonalds. Por minutos fiquei a comer sozinho, coisa a que já estava habituado. Então ela voltou com um prato só com salada - Estás de dieta?

Estranhei a sua pergunta. Aquilo era alguma insinuação? - Não - olhei para mim de alto a baixo - Mas talvez devesse - concordei secamente, e tirei uma batata do prato dele. Zade era demasiado inocente para dizer aquilo de forma a chamar-me gorda, mas a verdade é que já tinha engordado uns quilinhos desde que viera para o colégio.

- Se não estás de dieta como é que podes estar a comer salada? Tens batatas fritas, sanes, pizzas e massas à tua disposição - Eu soava incrédulo pois estava-o. Não era que eu a andasse a observava (ou talvez estivesse) mas ela não tinha quilos a mais. E se os tivesse, a mim não me incomodava - Não sei se conta para alguma coisa, mas eu acho que não estás a precisar de dieta.

Encolhi os ombros, e nem sequer lhe agradeci, apesar de por dentro ter me sentido bastante bem com o seu elogio. - Gosto disto, não me chateies - resmunguei e não o permiti de dizer mais nada até terminar o jantar.

Apenas encolhi os ombros e continuei a olhar para ela como se fosse um ET - Tu lá sabes o que perdes - Comentei e continuei a comer os meus deliciosos e gordurosos pedaços de frango. Eu comi rápido. Ainda bem que o metabolismo era rápido e eficaz, se não eu era uma bolinha andante.

Acabei de comer e levantei-me silenciosamente para pôr o tabuleiro onde ele pertencia. Quando regressei à mesa, não me sentei sequer, esperando que ele se apressasse a levantar e a sair dali. Estava a chegar à hora do jantar e o shopping estava a encher. Multidões eram terríveis. Como sinal, suspirei alto.

Ela estava cá com uma pressa. O que valia era eu comer rápido senão estava mesmo a imaginar os resmungos dela. Terminei de comer e coloquei o meu tabuleiro arrumado num sitio. - Pronto, pronto, pronto - Levantei as mãos em rendição - Já estou pronto.

Peguei-lhe pela mão (algo que acabou por parecer mais estranho do que eu pensei inicialmente) e puxei-o para fora dali. À entrada do centro comercial, impaciente, finalmente lhe larguei a mão e dirigi-me a ele - Apanhamos um taxi? - andar é que não! tudo menos andar! Não suportava andar depois de me alimentar.

Não estava habituado a ser arrastado pela mão. Parecia um menino de cinco anos mal-comportado. Perto dela não gostava disso. - Sim, claro. Não estou familiarizado com os autocarros daqui - Respondi.

Sem lhe dar mais dois segundos para acrescentar algo à sua resposta, avistei um taxi e fiz sinal. Estava muito apressada para aquela hora do dia, não me perguntem porquê. Entrámos. - Sempre é para o bar que combinámos? - perguntei a Zade antes de confirmar a direcção ao taxista.

Encolhi os ombros já dentro do carro. Aquilo é que era pressa - Hum, sim... como tenhas planeado - na verdade eu estava um bocadinho reticente em relação a tudo.

Tudo passou no espaço de menos de 5 minutos. E de repente, chegávamos ao nosso destino. Paguei eu ao taxista - nem estava à espera que Zade o fizesse, uma vez que nem queria estar ali em primeiro lugar. Parámos à entrada do bar - Preparado para conhecer umas amigas novas? - perguntei-lhe finalmente mais calma, com um sorriso manhoso.

A viagem de táxi foi curta de mais para o meu gosto. Só queria demorar tempo, e tempo, e tempo. Mas isso não aconteceu. Vimo-nos à frente do bar, já se ouvia música e tudo. Que lhe podia eu responder? - Erhhh...ainda não sei se é uma boa idea...uhhhh mas sim, estou...mais ou menos preparado... nem por isso.

Até eu me sentia mais preparada para me ver livre dele, do que ele para conhecer raparigas. Aproximei-me. - Ouve-me - pedi, ainda, antes de entrarmos - Analisa todas, e escolhe aquelas que te parecerem as mais simpáticas, ou aquelas que vais gostar mais. Não vás para nenhuma só porque te parece mais fácil - aconselhei, simpaticamente, e voltei a virar-me para a porta, fazendo-lhe sinal para que a abrisse e entrássemos.