Ruas

Como fiquei impaciente, levantei.me e bati à porta, abrindo-a se seguida.
- Posso? - perguntei, vendo que a visitante era a Masha.

Sorri abertamente ao ouvir a vós de Mikko e sentei-me melhor na cama, olhando-o radiante - Claro que podes amor!

Entrei no quarto e fechei a porta atrás de mim. Não queria ter nenhuma enfermeira a chatear-me com o "ela só pode ter uma visita de cada vez". Acenei a Masha, que por esta altura já devia saber de tudo. Depois aproximei-me da cama.

- Está bem.. - Murmurei para Masha e larguei a sua mão - Diverte-te! - Afirmei enquanto a olhava

Assenti.
- Sim, eu adoro aquilo. Um dia pode ser que lá vás conhecer kangurus. - ri-me.

Aproximei-me de Felice e beijei ao seu leve os seus lábios.
- Continuas bem? - perguntei, olhando-a. Pelo menos já não estava a chorar, apesar de ter os olhos vermelhos.

- Eu estou mais ou menos amor.. - Murmurei, puxando-o depois novamente para mim com cuidado, com a mão direita, enquanto tinha a esquerda cerrada. Beijei-o calma e apaixonadamente

Sorri.
- Gostas de destinos com praias, é? - abanei a cabeça levemente. - Eu também prefiro para surfar.

- Estás com dores? 
Perguntei, ainda num tom preocupado. Esperava que fosse isso porque se o seu mais ou menos se devesse ao psicológico... bom, nesse caso não ia ajudar grande coisa. 
 - A médica já te veio ver?

- Não muitas, amor.. - Murmurei apenas - Senta-te, e dá-me a tua mão.. - Pedi num tom praticamente baixo, estendendo-lhe a minha mão direita enquanto continuava com a outra mão fechada. - Não amor, ela ainda não veio aqui..

Fiz como ela pediu. Sentei-me na cadeira ao lado da cama e segurei a sua mão, entrelaçando os seus dedos nos meus. - Não deve demorar muito então...
 

Virei a sua mão, ficando a palma da mesma virada para cima e coloquei lá o meu colar, fechando depois a sua mão com as minhas - É um colar de família.. A minha mãe fez-me prometer-lhe, quando eu era mais nova, que dava este colar ao amor da minha vida.. E tu és o amor da minha vida, Mikko. Eu amo-te, muito.. - Fui falando cada vez mais baixinho porque estava a começar a chorar

Não estava à espera de nada daquilo. E assustei-me pela forma de como ela me amava tanto. Eu não era capaz de lhe retribuir o mesmo. Seria ela a mulher da minha vida? Não sabia. Pior, não sabia se queria alguma mulher na minha vida. Até agora, nunca pensara a sério no nosso relacionamento. Ao invés dizer isso, permaneci calado e aceitei o colar. Se alguma coisa corresse mal, devolvê-lo-ia. 
- Tens a certeza, Felice? Conheceste poucos homens até agora, eu posso não ser o tal...

- Sim, tenho.. - Afirmei, observando a sua reacção. Já tu não tens tantas certezas disso. Suspirei e limpei as lágrimas. É como se ele nunca me fosse amar com a mesma intensidade que eu o amo. Mordi o lábio e respirei fundo - Comeste alguma coisa, amor?

Uma vez mais, o ambiente entre nós estava estranho e pesado. Odiava que assim fosse.
Comer? Hum, nem por isso. Tinha bebido. - Tu já comeste? - Com certeza já lhe tinham trazido algo para comer.

Suspirei e olhei a sandes ainda inteira pelo canto do olho - Não amor.. - Murmurei, voltando a entrelaçar os meus dedos nos seus

- Então devias comer.
Disse-lhe com um semi-sorriso. Levantei-me e fui buscar um copo de água para cada um.

- Sinto-me como se fosse uma assassina amor.. - Murmurei cabisbaixa enquanto ele estava de costas a tratar dos copos de água

E lá estávamos nós a falar do aborto novamente... - Não tens porque te sentir uma assassina. Foi um aborto espontâneo - respondi directamente, sem nenhuma emoção na voz.

Eu não vejo as coisas assim tão simples, eu matei o meu bebé. O MEU bebé! Limpei as lágrimas e tentei não chorar mais - Diz que me amas.. - Sussurrei muito baixo, olhando as minhas mãos